A ARTE COMERCIAL DE DESTRUIR UMA MÚSICA

Posted: sábado, 26 de novembro de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , , , , ,
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Sim, sou um daqueles poucos seres psicóticos na face da Terra que prestam atenção em trilhas sonoras de comerciais. Não só no que diz respeito à busca por referências de clássicos da indústria fonográfica, mas sou senseless ao ponto de procurar pela discografia de alguma banda que, sabe-se lá por qual motivo, me chamam a atenção – ou melhor, por causa de riffs de guitarras que remetem à cena indie ou de grooves da cena soul, invariavelmente.

Assim foi com dois casos emblemáticos – para mim, ao menos: o comercial da Sprite Zero, ainda em 2005, quando o Orkut era relevante (sim, acreditem ou não, aquele site de relacionamentos teve os seus dias de glória); e o do Aquarius Fresh, deste ano. Ambos, por sinal, produtos da holding da Coca-Cola, mas isso não vem ao caso.

No caso da campanha da cena publicitária de seis anos atrás, a OST usada é da banda de indie rock neozelandesa Evermore, mais precisamente a faixa “Falling away”. A vibe do comercial é a seguinte: uma galera que, ao mergulhar em uma quadra transformada inexplicavelmente em uma piscina, sente-se plenamente livre. Querendo ou não, as linhas de guitarras algo intimista e a voz meio tranquila, meio preguiçosa de Jon Hume, frontman da banda, caíram muito bem nesse comercial.



Outro case é o do isotônico/suco/água “suja” (?) Aquarius Fresh. Nele, algumas pessoas, após provar um dos sabores existentes da bagaça, passam a ser “perseguidas” por clones, dando cores fortes e (por que não?) mais dinamismo à propaganda. A OST, no caso, é do projeto francês Breakbot, que toma em doses cavalares da fonte da soul music, lá dos anos 70.



Mas, contudo, todavia, entretanto, whatever e quaisquer advérbios do modo, nem tudo são flores. Sim, alguns clássicos são sumariamente destruídos, ou “estuprados”, mesmo. Há uma questão prática para a composição de covers de hinos da música popular: os direitos autorais. Mais precisamente a lei 9.610, de 1998, ou popularmente (?) conhecida como a lei da Propriedade Intelectual, que trata de marcas e de patentes. [OBS: Fidel Castro diria que isso tudo non ecziste, por causa do “fuzilamento intelectual” cubano, mas isso não é relevante for a while].

Não são raras as agências de publicidade apelam para este recurso para evitar problemas relacionados ao (guess what?) direito de propriedade intelectual. Okay, é legal encontrar uma alternativa mais do que plausível, mas isso não quer dizer que clássicos tenham de ser descaracterizados, na “caruda”, ao ponto de serem transformados em covers inaudíveis e para lá de irritantes.

Vamos a dois casos. O primeiro deles é Come together, clássico dos The Beatles. Por causa da nova campanha – sim, aquela do já bordão “Esta é a minha vida, este é o meu mundo” – da empresa de telecomunicações via rádio, que coincidiu com a mudança da sua logomarca, a “repaginada” feita na música conseguiu deixá-la ainda mais irritante do que o barulhinho de alerta de seus aparelhos [I’m sorry, guys. I couldn’t avoid that]. Desbocadamente falando, a vibe fanfarra dada para ela foi de foder a vida.




Por mais estranho e contraditório que pareça, a marca, em outro comercial da nova campanha – aquele com “figurões” como Alex Atala, Herbert Vianna, MV Bill e Fábio Assunção –, usou como BG [background ou trilha de fundo, como preferir] versão mais fiel à matriz gravada pelo quarteto de Liverpool.




Outro caso, talvez mais bizarro – e pior, pois usou viés irritantemente ufanista e Pacheco –: “Balada do louco”, pela ótica da Brahma. Ou melhor, pela de seu fabricante, a holding Inbev Anheuser. Se a fanfarra beatlemaníaca já dá vontade de dar um mergulho no Tietê, essa ficou bem pior, pelo seguinte: a catarse dos irmãos Dias Baptista e de Rita Lee não combina mesmo com futebol e grito de torcida. A “forçação” de barra foi, no mínimo, desnecessária.



Ainda não acredita? Deem uma conferida na versão original. Vocês entenderão o porquê.

Resumo da ópera: é recomendável, mesmo, que a lei dos direitos autorais seja respeitada, pois ninguém é louco de levar um processo para o currículo “por bobeira”. Mas isso não quer dizer que qualquer um tenha carta branca para destruir clássicos da música.

That’s all, folks!

INCONSTÂNCIA COTIDIANA (PARTE II)

Posted: domingo, 2 de outubro de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , , ,
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E aquela noite prometia ser interessante, mesmo. João teve vontade de dizer que o "aprendiz de Jece Valadão" era pós-graduado e adepto da pornochanchada, além de ter o próprio ator, além do mito Paulo César Pereio, como mentores. Mas a cota de comentários sarcásticos havia sido preenchida pouco antes, por motivos óbvios. Restou-lhe dizer nada que não fosse novidade: ele era um foca de merda, motivo de piadas e de preocupação entre seus amigos graças aos seus porres homéricos, além de ser roteirista frustrado de curtas-metragens. Enfim, um merda da sociedade.

João esperava um bocejo colossal vindo de Ana, até porque a minha vida é um tédio só, uma merda - tanto que uma puta, certa vez, havia me dito que ela, sua vida, era um puta (!) tédio -, mas ela mostrou-se interessada, sabe-se lá o motivo. Talvez porque ela já havia tomado umas e outras, e já estava com o seu nível de julgamento e de estabelecer critérios comprometido. Por algum motivo um pouco mais bizarro, ela estava interessada nos pequenos causos (ou melhor, de roubadas) em que João esteve envolvido. Como uma coletiva em que, bem na hora na qual ele faria uma pergunta, teve um ataque de espirros seguido de falta de ar - além de tudo, o mais vexaminoso naquela história foi que tudo foi causado pelo misto de rinite com medo de falar em público. Mas isso não vem ao caso.

Na mesma proporção, ele mostrou-se interessado pacas no que Ana dizia, especialmente sobre o comportamento do indivíduo em sociedade e afins. Sem contar que ambos riam muito alto quando ela contou  a clássica associação do regime comunista aos Smurfs - sem contar a piada que ela mesma fez sobre Smurfette ser a única mulher numa comunidade socialista, que causou certo estranhamento em João, mas, dado o seu estado etílico, não deu muita importância a esse detalhe. Além de todas as pseudo-teorias sobre o pensamento doentio de Lars Von Trier - ou Lars Von Treta, como ambos chegaram a esse nome, por consenso.

A vibe entre os dois ficou intensa, ao ponto de ambos terem sido enxotados do bar, pelo risco de rolar atentado violento ao pudor a qualquer momento - tanto João quanto Ana estavam numa pegada tão louca que transariam no banheiro, caso não estivesse sujo. A solução acabou sendo ir mesmo a um motel meio foleiro, mas que cabia no bolso de ambos ("Um jornalista falido ficar com uma estudante de Sociologia só poderia dar em merda", pensava João). Para foder a porra toda, ambos foram a pé, mas, como dizia o poeta, "tá no inferno, abraça o capeta!".

Não se pegarem no saguão do motel foi um exercício de autocontrole sobre-humano para os dois. Quiçá, tão grande quanto colocar uma garrafa de vodka na frente de Boris Yeltsin, ex-presidente da URSS e notório bêbado. Nem precisa dizer que, ao chegarem no quarto, os dois bateram o recorde mundial ao tirarem toda  a roupa. Nem será preciso entrar em detalhes sobre preliminares e afins (até porque este não é um conto erótico, capice?).

Tudo fluía muito bem. João e Ana estava na mesma vibe, na mesma frequência. Mas, quando estavam prestes a chegar em outra dimensão, uma interrupção abrupta rolou do nada. Sem motivo aparente, Ana começou a sentir-se culpada por estar ali, com um cara que conhecera pouco antes, de uma das maneiras mais bizarras possíveis. Culpada por ser uma "intelectual poser", segundo a própria; culpada por ter agido de maneira irresponsável. Mesmo sabendo que havia sido algo mútuo, João começou a sentir peso na consciência, mesmo com evidências mais do que fortes de que estava com uma pessoa, no mínimo, problemática. Qualquer tipo de clima tinha sumido do mapa, e a noite, até então insana, acabou sendo uma espécie de divã.

Quanto mais ele a ouvia falar, sobre outros relacionamentos que ela vivera e suas crises existenciais, além da revolta contra o mundo - o sistema hedonista-capitalista, no caso -, mais João pagava de psicanalista, e pensava. Pensava que aquilo era exatamente o que ele sentia, mas que resolvia por meio da leitura e de porres "juvenis". Também pensava em por que caralhos aquáticos ele sempre tornava-se um ímã de mulheres problemáticas, tão problemáticas quanto ele.

Como a grana de ambos era curta e a conta no motel perigava ficar cara demais, o jeito foi continuar a conversa num dos poucos bares abertos por 24h. Na verdade, o que ele mais queria era dar o fora e fugir daquela louca, mas, por compaixão (ou por, inconscientemente, ele estar atraído por ela), continuou a ouvi-la noite afora. Depois de muito mimimi e de choradeira inacabável, os dois chegaram ao consenso de que era melhor cada um ir para o seu rumo. Subjetivamente contrariado, João perdeu uma grande oportunidade para dar o telefone errado, de propósito, e forneceu o número pessoal, além de seu e-mail (ele não queria admitir, mas queria vê-la novamente).

Ao voltar para casa, ele não conseguia parar de pensar na pergunta "O que o aprendiz de Jece Valadão faz da vida?", na loucura, no clímax - e na broxada - que aquela noite fora. "Tenho o raro dom de foder a minha vida, que já é complicada", ele pensou. "Sorte não precisar trabalhar hoje. Mais um dia antes de voltar para a rotina de merda", refletia, ao ritmo de marteladas em seu subconsciente. A vida, por mais louca que fosse, continuava, afinal.

INCONSTÂNCIA COTIDIANA (PARTE I)

Posted: domingo, 18 de setembro de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , ,
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João era daqueles caras que eram legais com todos ao seu redor, exceto consigo próprio. Na proporção inversa, a única pessoa com quem ele era filho da puta era com ele mesmo, enquanto que o fato de ele ter de ser ríspido com o próprio irmão, por exemplo, o fazia ter pesadelos intermináveis - além do peso na consciência que o fazia ficar à beira de dar um mergulho no Tietê.

No seu emprego, o de repórter foca, ele era bom, até, mas tinha tendência para ficar disperso de suas atividades. Não por incompetência ou por ser DDA - ele tinha algumas características, mas não todas para caracterizá-lo como tal. Seu problema era desestabilizar-se ao ver que qualquer coisa fugia ao seu controle, mesmo as mais triviais, e sentir-se impotente em relação a tal, como se faltasse uma peça para completar o seu quebra-cabeça, e ele nunca fosse encontrá-la. Além de irritar-se com o fato de seus pais passarem noites insones por conta de seu comportamento instável, ora arrogante, ora depressivo, por achar que eles tinham coisas muito mais importantes com as quais se preocuparem ao invés dele, é claro.

Outra coisa que o incomodava era o fato de tudo dar certo em sua vida, pois, desde que ele se entendia por gente, alguma merda sempre acontecia no dia a dia. De tão habituado e resignado a entrar em roubadas sucessivas a cada cinco minutos, um período de calmaria – entenda-se de quase tudo terminar bem – o deixava desconfiado que uma avalanche de merda o encontraria no quarteirão seguinte. Mesmo que ele não o quisesse admitir, essa incerteza o deixava com cagaço eterno.

Enfim, João tinha o raro dom de complicar até mesmo o que parecia ser impossível fazê-lo. Tanto o medo de fracassar em qualquer coisa o quanto sobre o que todos poderiam pensar sobre ele tornavam sua autoconfiança extremamente vulnerável – para não dizer efêmera, mesmo. Logo, recorrer ao álcool era a sua saída mais recorrente para fugir de si próprio e, inconscientemente, ser alguém que ele não era – abusado, ousado, cheio de si. Exatamente o que ele não era no dia a dia, e era como se ele fosse o Jekyll/Hyde pós-moderno. “O Loser e o Libertino”,no caso. Logo, qualquer outra pessoa entenderia a preocupação de seus pais e de seus poucos amigos em relação a ele, por conta de seu comportamento potencialmente autodestrutivo.

De tanto ir a um boteco relativamente próximo de sua casa, daqueles foleiros e frequentados por pseudo-intelectuais de quinta categoria, ele já era amigo até dos garçons, e falava sobre todos os assuntos possíveis e imagináveis com eles. Desde a queda da taxa Selic às fotos da Scarlett Johansson, por exemplo.

Obviamente, os assuntos da moda são os que mais rendem opiniões – de vertentes mais variadas, normalmente –, e resultam em discussões acaloradas. Desta vez, uma dessas discussões envolveu João, e o motivo foi a Scarlett. Ele conseguia polemizar somente quando não sabia a opinião sobre de ninguém sobre qualquer assunto, e foi o caso nesse dia: ao comentar com o garçom que os seios da atriz eram os mais bonitos de Hollywood, uma dessas mulheres com o estereótipo “estudante de Antropologia da USP", aparentemente horrorizada com o que acabara de ouvir, desconsiderou o estado um tanto ébrio de nosso anti-herói [que de herói não tem porra nenhuma, diga-se de passagem] e dirigiu-se a ele, ao chamá-lo de “machistazinho de merda”.

Ainda sem saber de qual birosca aquela minazinha havia surgido, sua reação foi dizer que isso – uma certa parte da anatomia perfeita de Scarlett, no caso – estava evidente até mesmo no enquadramento de câmeras de “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen, além de citar uma série de baboseiras pseudo-cult que nem valem a pena ser mencionadas. Ironicamente, o que tinha tudo para transformar-se em uma discussão ideológico-sexual acabou em uma conversa sobre cinema, desde as cores de Almodóvar e sua preferência por Penélope Cruz a até sobre a fotografia e direcionamento de “Elefante”, aquele filme de Gus Van Sant sobre os ataques em Columbine, no já longínquo 1999.

Meia hora depois, numa mesa um tanto isolada, João tentava decifrar ao menos um pouco a personalidade daquele ser enigmático que tentou destruir sua reputação, que já não valia porra nenhuma, além de tentar refazer seu filme; enquanto ela tentava descobrir o que se passava pela cabeça daquela que tentava impressioná-la, mas positivamente, agora. “Prazer, Ana, estudante de Sociologia. O que o aprendiz do Jece Valadão faz da vida?”. Aquela pergunta, por algum motivo, fez João achar que aquela noite seria interessante, e decidiu dar uma chance ao imponderável e mergulhar de cabeça nela.


(Continua)

COVERS (NEM SEMPRE) NOTÁVEIS (8)

Posted: domingo, 28 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Homenagear, copiar, regravar e plagiar descaradamente os Beatles é um dos grandes clichês da história da indústria fonográfica. Também pudera, o formato de álbuns, tal qual o conhecemos atualmente - mesmo com todos os formatos de mídia atualmente vigentes -, além do conceito de videoclipe, eternizado (?) pela EMETEVÊ, surgiram graças aos caras.

Logo, não é à toa que todos queiram, em algum momento, ser um dos integrantes do fab 4 pelo menos uma vez na vida, e não importa se o postulante a beatle fake for o bêbado no videokê ou o Ozzy Osbourne - acreditem ou não, ele tornou-se o Ozzy como o conhecemos porque ele queria ser uma espécie de "o quinto Beatle".

Enfim, sem mais delongas - e sem fazer menção aos 250 mil atentados à discografia do quarteto de Liverpool -, vamos a uma cover que realmente valha a pena. Para variar, tinha de ter um dedo - ou melhor, o timbre - de Eddie Vedder, frontman do Pearl Jam, no meio.

Voltemos para 2001. Naquele ano, um dos filmes que mais repercutiram entre o público e a crítica foi o "Uma lição de amor" ("I am Sam", na gringa), no qual Sean Penn interpreta Sam Dawson, deficiente mental que tem de provar ser capaz de criar Lucy (!!!!), sua filha de sete anos, interpretada por Dakota Fanning. Além das várias citações feitas à obra do Beatles durante o filme, algumas das músicas mais marcantes dos caras foram interpretadas por outros artistas - entre eles estava Vedder, é claro.

O frontman do Pearl ficou responsável pela reprodução de "You've got to hide your love away", que ficou, diga-se de passagem, singelamente bela. Além de ter pegada folk, com direito a gaita, inclusive. Se quiser ouvi-la, liguem-se na execução dela durante a passagem do Pearl Jam por estas bandas, em 2005. Se quiserem ouvir "cópia original", da OST de "I am Sam", deem uma olhada aqui.



Para os beatlemaníacos, eis o deleite da versão de "You've got to hide your love away", presente no álbum "Help", de 1965 - anterior à fase mais psicodélica da banda, e isso pode ser notado graças ao corte de cabelo "tigelinha", originalmente chamado de moptop.



Enjoy it, folks!

ENSAIO SOBRE A INFÂMIA (PARTE III)

Posted: sexta-feira, 5 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , ,
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Ao melhor estilo “Efeito borboleta”, a mulher de minha vida – eu já me habilitava a me referir a ela dessa maneira – não quis saber das minhas justificativas notoriamente esfarrapadas e, aproveitando uma chance profissional que surgira à época para dar aulas no interior, foi embora sem titubear. Para esquecer-se de mim, igualmente à personagem de Katie Winslet em “Brilho eterno sem lembranças”, definitivamente.

O meu mundo havia caído. Motivação para viver, onde estava mesmo? Me sentia igual ao personagem de Ethan Hawke em “Grandes esperanças”, quando a persona protagonizada pela Gwyneth Paltrow o havia abandonado para ficar com um ricaço. No meu caso, eu mesmo havia fodido a minha vida e afastado a Lia de mim. O meu gênio autodestrutivo começava a falar mais alto e, sinceramente, pensei em dar um mergulho no Rio Tietê ou em chafurdar de vez na lama etílica. Mas, para mim, aquele que eu achava ser o meu maior castigo salvaria posteriormente a minha vida: viver não e esquecer-me dela.

Logo, Inês estava morta, e o que me restava era assumir o meu “erro”, ou seja, assumir a paternidade que me cabia no latifúndio da vida. Bernardo, o meu filho, era a minha cara e semelhança, coitado, mas havia passado a ser o meu porto seguro, por assim dizer. Estranho um loser boêmio dizer isso, mas a vida prega algumas peças, às vezes. Com o tempo, deixei de viver de freelas como analista de mídias sociais – ao contrário de outrora, já estava um pouco mais responsável – e, numa cagada do acaso, comecei a trabalhar como freelance em uma produtora cinematográfica. Como havia me acostumado ao ritmo de vida workahólico, acabei sendo promovido. Minha vida profissional começava a se encaixar, mas algo faltava.

Nem precisa ser Einsten para deduzir o que era esse “algo”. Era Lia, é claro. Por mais que tentasse esquecê-la – e olha que tentei muito, e com muitas outras pessoas -, ninguém ocupou o vazio deixado por ela. Consequentemente, eu estava num vazio existencial ferrado, numa bad fodida. Era foda admitir, mas eu havia deixado a mulher quem eu amava ir embora por ter me deixado trair pelos mais primitivos dos instintos humanos... Além de ter pensado da maneira errada, se você me entende.

Antes que eu comece a ficar ainda mais pedante e repetitivo do que sou por natureza, voltemos aonde eu havia parado. Onde, mesmo? Ah, tá. O meu lado workaholic havia rendido noites em claro, ao escrever o roteiro para um longa-metragem. Sim, o meu primeiro filme, com verba liberada depois de muito chorar para patrocinadores e o cazzo a quatro. O roteiro era simples, apesar de ter carga subjetivamente intensa: um cara até então sem motivo forte para viver encontra de maneira fortuita aquela por quem ele se apaixonaria perdidamente, mas uma aventura que ele vivera antes de conhecê-la fode todo o relacionamento. Agora te contesto loucamente, Oscar Wilde: a vida imita a arte. Durma com esse barulho.

Confesso que estava com o cu na mão – desculpe-me por mais esse termo baixo, mas não encontrei nenhum outro que descrevesse com precisão o meu estado de espírito -, no entanto, o meu “cagaço” não seria nada perto do que eu viria a sentir. Nada na vida, assim como na sétima arte, faz sentido, e esse roteiro desconexo que consiste no viver iria me pregar mais uma peça. Que quase me levou a um infarto, diga-se. Sim, Lia apareceu, sem mais, nem menos. Mas por que na noite de estreia do meu filme, porra?

Fiquei atônito, sem saber como agir ou se deveria me dirigir a ela, assim como na primeira vez em que a vi, naquele boteco foleiro, mas a minha cara-de-pau cinematográfica falou mais alto. Não mais do que a minha respiração ofegante, mas falava alto, sim.

Tá, o orgulho estava ferido e ainda me meti a salgá-lo, mas eu precisava fazer o que tinha de ser feito. Foram minutos assustadores, aqueles, mas voltei a me sentir como aquele jovem inconsequente de antes, apesar de não mais o ser. Inconsequente, no caso. Cara, você não faz ideia de como foi difícil furar novamente o Muro de Berlim, mas deu aparentemente certo. Sabe aquela história de que atos valem mais do que milhares de palavras? Nesse caso, os atos eram as cenas, mesmo.

Ao contrário dos filmes hollywoodianos, que na maioria são uma merda, não há mocinhos e vilões declarados na vida. E eu havia sentido isso na pele, ao alternar momentos de heroísmo ridiculamente inacreditável e de vilania, dignos de deixar Alex de Large se borrando de medo. No máximo, posso dizer que fui o anti-herói da minha vida.

Estava em transe – não plenamente feliz, pois a felicidade suprema, idealizada e transmitida por meio do senso comum, não existe. Ao menos, eu tinha a minha musa inspiradora de volta.

Moral da história? Não, não há. Fim? Menos ainda. O fim de um roteiro – ou fase, como preferir – chega conforme começa outra fase, ou é apenas uma instituição estabelecida por meio do senso comum para vivermos em função de um novo começo, do amanhã. O grande lance é viver, e rodar cada roteiro como se houvesse mais uma sequência. É isso.

ENSAIO SOBRE A INFÂMIA (PARTE II)

Posted: quarta-feira, 3 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , , ,
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Aquela deusa da sétima arte, para o meu alívio, não era poser, daquelas que fingiam gostar de determinada obra obra só para pagar de intelectual, e foi simpática comigo, até – estranhei, porque até mesmo os meus pais me achavam um porre, mas não me deixei abalar. O nome dela, saberia pouco depois, era Lia, e era estudante de Sociologia, para completar. Pela primeira vez na vida adulta – amores platônicos da adolescência não contam -, eu não estava atraído por uma mulher somente pela parte pura e simplesmente sexual. Estranhamente, me sentia bem perto dela, somente pelo fato de estar perto dela.

Em pouco tempo de conversa – eu supunha, pelo menos -, eu me sentia hipnotizado por ela. Não conseguia prestar atenção ao que ela dizia, somente em seus movimentos labiais; logo, o mundo girava em slow motion. Pelo pouco o que pude “reter”, ela era aficionada pelos filmes de Almodóvar, Truffaut e, acredite, em cinema iraniano. Bisonhamente, ela rira ruidosamente da minha cara, e achou meio estranho um estudante de Cinema não ter assistido, até então, a nenhum filme feito por aquelas bandas. Para minha sorte, sair pela tangente era uma de minhas especialidades: apesar de ser um loser incorrigível, eu manjava bem até sobre Bollywood e, também, sobre a indústria cinematográfica nigeriana – sabia que o mercado local é o terceiro maior do mundo? Soube um dia desses, numa daquelas aulas nas quais somente eu consigo interessar-me. É, acho que aquele foi o meu golpe de misericórdia: eu havia furado o Muro de Berlim erguido anteriormente pela própria.

Aquela foi, de longe, a melhor transa de toda a minha vida. Pela primeira vez, eu havia vivenciado uma relação na qual houve entrega mútua e todos aqueles clichês sobre os quais me recuso até o fim a dizer. Aquilo virou o meu soma, a minha dose moral de endorfina – além da física, é claro -; e a presença dela, o meu oxigênio. Foram noites insones e dias improdutivos no trabalho, que fizeram o meu tio perder o último fio de paciência e me demitir, até começarmos a namorar. Parceiro, a parada estava séria ao ponto de eu ter aceito colocar um anel na mão direita. Logo eu, que achava o uso desse famigerado objeto prateado uma instituição pequeno-burguesa e hipócrita. Eu estava na lama moral, mesmo. Ainda assim, feliz. O amor nos deixa idiota, só pode.

O meu cotidiano estava dividido entre os roteiros de curtas-metragens para a faculdade – agora entendo o mestre Vinícius de Moraes, em se tratando de amor e de inspiração criativa – e os programas lindamente mais bregas ao lado da Lia. Não interessava se fossem tardes cinematográficas com sessões extras in loco, se você me entende; fondue seguido de fodas épicas; ou passeios de bicicleta no Ibirapuera, eu me sentia como se Edith Piaf tivesse composto “La vie em rose” sob medida para a nossa relação.

Apesar de tudo, alguma coisa me inquietava. Essa “alguma coisa” era o fato de tudo dar certo. Desde que me entendo por gente, sempre acontecia alguma merda na minha vida. Para variar, isso teria de acontecer naquela fase da minha vida (justo naquele momento, porra?), e em dose dupla. O meu histórico boêmio iria foder a minha vida um dia, segundo os meus pais e amigos um pouco menos loucos – e olha que havia sido um adolescente “certinho” -, e foi exatamente isso o que aconteceu. Ironicamente, o feitiço virou contra o feiticeiro, graças a uma noite na qual esqueci de pegar preservativos em casa e não havia nenhuma drogaria 24 horas por perto, uma semana antes de ter conhecido a Lia. Sim, a bomba da paternidade havia estourado no meu colo. 


(Continua)

ENSAIO SOBRE A INFÂMIA (PARTE I)

Posted: segunda-feira, 1 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Mais um dia, como qualquer outro. Mesmas pessoas, mesmas tarefas, mesmas paredes, the same old shit. Antes de você pensar que sou um niilista pseudo-depressivo e pessimista incorrigível, saiba que eu o sou, de fato. Mas isso não vem ao caso. Se eu tentar explicar resumidamente, você entenderá

Sem mais enrolações, antes que eu perca mais tempo falando de mim - sou tão interessante que até eu mesmo bocejo ao citar o meu nome -, vamos ao que interessa (?). Para o seu desprazer, sou Nicolas - Nico, para os poucos amigos que acho ter -, cineasta frustrado. Há alguns anos, eu era analista de mídias sociais em um escritório de arquitetura, ou vagabundo, para ser mais exato. Profissionais dessa área não o eram, mas eu honrava homericamente a raça dos "coçadores" e desocupados de plantão. À época, eu era estudante de Cinema, mesmo trampando em um escritório de arquitetura. É, eu estava no caminho certo à infâmia, que já me inevitável.

Minha aptidão para o Cinema não era lá grande coisa, mas pelo menos não era um vlogger, o que já era uma luz distante no fim do túnel. Para a arquitetura? Menos ainda. Não era à toa que eu era conhecido no escritório como o Oscar Niemeyer pós-moderno, dada a minha falta de aptidão crônica em usar réguas e por conta do meu traço abstrato - para não dizer ridículo, mesmo. Por isso, eu estava como vagab... Digo, analista de mídias sociais. Aliás, era a última tentativa do meu tio, arquiteto responsável pelo escritório, em dar a mão ao único filho de seu irmão.

Enfim, talento para qualquer porra eu não tinha, até porque eu era um incapacitado moral ambulante. Minha vida resumia-se a navegar na web durante o horário comercial, às poucas aulas que assistia - apesar desse comportamento errático, eu era bom aluno quando queria - e às horas a fio nos bares da vida. Também fazia parte de uma banda de indie rock, meio na vibe The Strokes. Ela era boa, até, mas quem a emperrava era o guitarrista, vulgo "eu". Bastou eu ser amigavelmente defenestrado dela por incompatibilidade musical - leia-se "eu era ruim pra caralho" - para ela começar a fazer relativo sucesso no cenário independente.

Sobre os meus relacionamentos, que duravam uma transa e não raras vezes alguns contos de réis, prefiro não comentar nada. Apesar de gostar de fazer o tipo "boêmio e putanheiro incorrigível", eu sentia falta de viver um caso de amor loucamente intenso. Daqueles de ficar abobalhado, de cometer as maiores loucuras de amor possíveis e imagináveis. Mas isso não vem ao caso. Quer saber? Foda-se. Vamos voltar ao que suponho que interessa: à minha vida de merda. Whatever.

Numa daquelas noites imprevisíveis, num desses bares sujos e não muito cristãos, decidi recolher-me à minha insignificância - ou melhor, a um balcão. Do nada, vejo ao meu lado uma mulher não estonteante, mas instigante, mesmo. Ela lembrava, por algum motivo, a Kirsten Dunst. Pela delicadeza, talvez. Não sou tão detalhista assim. Bêbado, menos ainda, mas nunca me esquecerei de como ela estava naquele dia: All Star meio sujo - mulheres de All Star me atraíam -; jeans justo; camiseta baby look do filme "Pulp Fiction", com a gravura dos personagens de Samuel L. Jackson e de John Travolta apontando cada um sua respectiva arma; e terninho de cardigan, daqueles que só se veem em mostras de Cinema e afins. A camiseta do Pulp Fiction, especialmente, não me fazia parar de tirar os olhos dela... Além de suas formas perfeitas, é claro.

Igualmente a mim, ela também estava tomando uma daquelas cervejas favoritas dos indies de plantão, e parecia não ter motivo aparente para estar naquela espelunca agradavelmente foleira - sim, a exemplo de muito jornalista pseudo-intelectual por aí, eu curtia botecos meio toscos. Mas a deixa, como não poderia deixar de ser, foi a camiseta do "Pulp Fiction". Eu era fissurado na filmografia do Tarantino, e a existência de uma mulher que também gostava da obra do cara era, no mínimo, afrodisíaca.

(Continua)

CÁ E LÁ (1)

Posted: quinta-feira, 7 de julho de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , ,
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Você já deve ter conversado, teorizado, discutido, se revoltado e, até mesmo, feito um discurso à Fidel Castro numa mesa de boteco sobre comerciais de cerveja produzidos no Brasil. Não pelos aspectos positivos, é claro. Pode reparar: nove entre dez comerciais feitos para divulgação de marcas do líquido sagrado - vá lá, algumas são dispensáveis, no mínimo - apelam para os clichês churrasco-pagode-galera descolada à "A banda mais bonita da cidade" - gostosas. Isso sem contar o boteco mais fake do que uma novela da Rede Globo.

Pode até ser que um ou dois desses pontos ocorram, mas não necessariamente de maneira caricata, mas é bom ressaltar o seguinte: a vida não se resume a um churrasco à beira da piscina, com um bando de figurantes de "Oração" a admirar as curvas bem definidas da Megan Fox, por exemplo - se você suportar a ideia de ouvi-los cantar "Meu amor, esta é a última oração para salvar seu coração..." com uma lata de cerveja na mão, saia daqui agora.

A prova cabal de que o brasileiro não tem criatividade, em se tratando de comerciais de cerveja, é que sempre há uma maneira para se colocar uma mulher deslumbrante no meio. Não que seja de tudo ruim - não viveríamos sem elas, e os ogros de plantão irão concordar comigo -, mas há alguns aspectos a serem considerados. Será que usar o esteriótipo feminino não remete ao aspecto "dominante" masculino, ao reduzi-la somente a uma "gostosa que vai buscar a breja gelada para mim"? Será que, também, não somos chamados nas entrelinhas de "trogloditas que agem por impulsos previamente treinados"? Sejamos francos: esse recurso, além de saturado, degrada a imagem feminina. Mulher não precisa ser aquela gostosa de biquíni para ser atraente. O conjunto da obra é o que vale, afinal.

Além disso, o mote "papo descolado que nunca rolaria na vida real" já perdeu o seu espaço antes mesmo de ser inventado. Para algo ser vendável é necessário que o potencial consumidor consiga "se ver" ali, e não idealizar uma situação para fazê-lo. Uma das premissas das peças publicitárias não é chamar a atenção do público-alvo justamente pela identificação com o produto X, não é mesmo? Além disso, há como ser engraçado e fugir do senso comum.

Peguemos como exemplo comerciais da Heineken, patrocinadora da Uefa Champions League. Por mais que a maioria deles aborde o futebol como ponto de partida para o desenrolar da mini estória, aspectos criativos estão ali. Seja na entrada dos amigos no bar como se fosse um túnel de estádio, seja numa aparente briga que se transforma no reencontro de velhos conhecidos. Mas nada supera uma velha brincadeira com o comportamento feminino. Mulheres entram em transe e praticamente surtam ao ver o guarda-roupa, closet, whatever de uma amiga, ou ficam histéricas ao ver uma coleção infindável de sapatos. Agora, aplique o mesmo grau de histeria em um bando de barbados ao se deparar com acervo infindável de Heineken. Bom, esse é o conceito da parada, que você poderá ver abaixo.


Agora, outra amostra de como ser genial e, até mesmo, brincar com lugares-comuns. Você, meu amigo, imagine no seguinte: você está no bar com seus amigos, falando sobre a vida - real, é bom ressaltar -, até que a sua namorada/esposa/fuck friend liga. Você, até prova em contrário, está na faculdade, na apresentação de um seminário, ou no trabalho - no caso dos jornalistas, no fechamento de uma edição de jornal ou de revista, por exemplo. A casa caiu, certo? Pensando nisso, alguns marqueteiros argentinos - sim, os nossos hermanos - fizeram a seguinte "brincadeira", com a Cerveza Andes: a criação de uma máquina de "teletransporte" com ambientização de uma série de ambientes: hospital, escola, casa da mãe, até mesmo o metrô - o popular Teletransporter. Quer dar uma olhada na bagaça?


Dá para fugir do lugar-comum na maior. Com um pé nas costas, até. Quantos workshops, cursos e o cazzo a quatro serão necessários para que os marqueteiros e cervejeiros daqui mudem a fórmula e troquem o disco? Pensem nisso, com a sua cerveja preferida ao seu alcance. Com moderação, é claro.

COVERS (NEM SEMPRE) NOTÁVEIS (7)

Posted: domingo, 26 de junho de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Nem é preciso dizer muito sobre o The Police, banda capitaneada por Sting, carismático baixista e brother dos índios da Reserva Indígena do Xingu, que marcou época no final dos anos 70 até o começo da década seguinte. Isso até o grupo se desmanchar, por conta de lutas de MMA sessões de porradaria homérica no backstage entre o próprio frontman da banda e os igualmente importantes Andy Sommers, guitarra, e Stewart Copeland, batera da bagaça - eles volta e meia se reúnem para turnês esporádicas, como aquela de 2007, na qual eles deram o ar da graça por aqui.

Pois bem, um dos principais álbuns do power trio foi o épico "Outlandos D'Amour", um dos mais importantes da década de 70 - e olha que aquele foi um dos períodos mais criativos da história contemporânea da música -, ao ponto de "apenas" ter sido escolhido como um dos 500 discos mais importantes da história da música, de acordo com os loucos, mas muito bem gabaritados da revista Rolling Stone. A gringa, vale o registro. De quebra, uma das principais faixas desse trampo é "Roxanne", que chegou a alcançar, à época, o 12o lugar nas paradas britânicas - o que não é pouco, vale lembrar.

A faixa fala basicamente sobre o seguinte: uma puta meretriz pela qual um cara (Sting?) se apaixona, e ele quer tirá-la da zona - os versos "você não precisa acender a luz vermelha" e "você não precisa vender seu corpo à noite" explicam tudo. Guardadas proporções, pode-se traçar paralelo com "Eu vou tirar você desse lugar", do mestre Odair José e, dependendo do seu estado etílico, dá até para dizer que "Roxanne" está para o Sting como Geni, de "Geni e o Zepellin", está para o mestre Chico Buarque.

Enfim, sem mais xurumelas, vamos ao que interessa: à cover, propriamente dita. George Michael - sim, o ex-símbolo sexual das mulheres, em quem Ricky Martin se inspirou - se atreveu a tirar as guitarras de Sommers, o baixo de Sting e a batera visceral de Copeland, e jogou contrabaixo, piano e todo aquele clima relativamente jazzístico na parada. E não é que o som ficou bom? Se quiser conferi-lo, aí vai a pedrada.


Como se não bastasse, "Roxanne" também virou tango, acredite. Mais exatamente em "Moulin Rouge - Amor em vermelho", filme propício para o clima do longa-metragem: luz vermelha, cortesãs, cabarés. Se quiser conferi-lo, fique à vontade - a mesma coisa vale para a ALTAMENTE recomendável versão original.




Enfim, fica a dica. Hasta luego!

ÍDOLOS = SERES COMUNS

Posted: quarta-feira, 18 de maio de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , ,
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"Eu também mijo e cago, como qualquer outra pessoa". Esta frase poderia ser dita por mim, pelo João, pelo português da padaria, até mesmo pelo "poeta do boteco da esquina" (de onde vocês acham que os poetas de outrora tiravam inspiração? Da arquitetura do Parnaso?); no entanto, crianças, o autor desta pérola foi o ator pornô José Mayer. Para muitos, ele é um mito, quiçá uma divindade, um ser inacessível, inatingível; e tudo isso graças à sua (mega)exposição no mainstream, em tons marinhos (if you know what I mean). Essa intro (ou um puta "nariz-de-cera", como preferir) tem um simples objetivo: mostrar que personalidades e pseudo-celebridades são apenas reles mortais, assim como qualquer um de nós.

Vocês já pararam para pensar que, inconscientemente, somos impelidos a "endeusar" uma pessoa que tem projeção midiática, por menor que seja? Quer provas? Quem nunca deu "boa noite" ao William Bonner, mesmo após ter rolado aquela clássica comparação do espectador daquele telejornal (sobre o qual me recuso, terminantemente, a dizer o nome) ao Homer Simpsom? Qual garota que nunca colocou o pôster do pseudo-galã de quinta categoria (e da moda) na parede do quarto, ou fez uma daquelas cartas de 5 km para enviar ao cabra? E quem nunca presenciou discussões sobre o caráter do ator (ou da atriz) A, B ou Z? Ou seja, por mais que não queiramos admitir, tratamos-os(as) como seres superiores, que estão um pedestal acima de todos nós.

De acordo com o meu pai o dicionário, ídolo significa "personalidade que desfruta de grande popularidade", ou "pessoa pela qual se tributam louvores excessivos ou que se ama apaixonadamente". É essa segunda definição a atribuída à maioria das pseudo-personalidades, que passam a ser (equivocadamente?) endeusadas. Pois bem, de acordo com opiniões que nem bêbados respeitam observações empíricas, a maioria esmagadora de pseudo-celebridades parece deixar os "15 minutos de fama" subirem à cabeça, e perdem completamente a linha. Nem vou me dar ao trabalho de falar sobre os caras do pseudo-jornalístico e pretensamente humorístico CQC (estudo de caso, diga-se), pois os atos falhos e sucessivos lapsos cognitivo-morais (ou seja, burradas e afins) são notórios... Sem contar a aura de semi-deuses que os integrantes carregam, é claro. 

Há relativamente pouco tempo, as mídias sociais (entenda-se Twitter) meio que quebraram o Muro de Berlim existente entre celebridades e meros mortais, como nós... E o efeito foi devastador. Pessoas que tinham reputações (supostamente) irretocáveis, como Gal Costa, Xuxa, Neymar (um garoto, é bom que se diga), sem contar BBBs e toda a sorte de alpinistas midiáticos, passaram a ser vistos como pessoas que "mijam e cagam" (lembram-se da frase filosofal de Zé Mayer?). O motivo, crianças, é simples: as máscaras caíram... Ou melhor: traços comportamentais vieram à tona. Na maioria das vezes, o egocentrismo permeava tudo.

Agora, o ponto-chave disso tudo: essas mesmas pessoas são, supostamente, exemplos comportamentais, socialmente falando (em quem você acha que os meus irmãos mais novos se espelham? Não pode ser em mim, em hipótese alguma). Isso não quer dizer que eles devam ter comportamento pasteurizado, politicamente correto (falar palavrão pra caralho é preciso, um porre não faz mal a ninguém), mas há paradigmas sociais que não podem ser quebrados, como o bom convívio social (além da empatia, é claro). Galera, fazer piadas sobre estupro, citações infelizes sobre Auschwitz são menos ainda recomendáveis (mesmo que seja para provocar a galera de Higienópolis). Não é preciso ser politicamente correto, até porque é um puta pé-no-saco, mas o bom senso, ter consciência de seu papel, socialmente falando; e, principalmente, reconhecer que se é uma pessoa como qualquer outra são requisitos fundamentais para todo e qualquer indivíduo postulante ao papel de ídolo.

Enfim, não é preciso ser um gentlement ou uma "princesa" (outra convenção social ridícula, diga-se), mas saiba muito bem que toda ação resulta em uma reação de mesma intensidade e força. E para vocês, crianças: celebridades não são semideuses (ou semideusas). O recado está dado.

Au revoir, Shoshanna!

COVERS (NEM SEMPRE) NOTÁVEIS (6)

Posted: terça-feira, 8 de março de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , ,
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O "Ritmos del Mundo" é um projeto musical que consiste, basicamente, em versões de clássicos da música mundial com puta toque genuinamente latino (entenda-se por "ritmos latinos" muita salsa, merengue, rumba e afins... O samba, genuinamente brasileiro, não entrou na roda). O motivo para isso tudo é o seguinte: o trampo foi concebido pelos mestres do Buena Vista Social Club, os "fodões" da música cubana, lá pelos idos de 2006 (não sabe de quem estou falando? Assista ao documentário "Buena Vista Social Club" (!). Vai valer MUITO a pena). Também posso dizer que esta sessão do blog vai ter sobrevida... Mas este será assunto para uma boa conversa de boteco.

Enfim, deixando a cerveja, as fartas porções de fritas e as demais iguarias de boteco de lado, voltemos ao "Ritmos del Mundo". Participaram do projeto encabeçado pelos mestres do BVSC nomes como Coldplay, Kaiser Chiefs, Jack Johnson e Keane... E é exatamente a participação da trupe liderada por Tom Chaplim o assunto deste post. Os caras fizeram uma versão, no mínimo, perfeita de "Under pressure", épico gravado pela não menos mítica banda Queen (aquela mesma, liderada pelo mito Freddie Mercury, e que tem uma das músicas mais executadas de toda a história: "We are the champions", que seguramente será tema de algum post, num futuro próximo, talvez). Se você tiver menos de 15 anos, pergunte ao seu pai sobre o Queen.

Para quem quiser conferir todo o virtuosismo dos "tios" do Buena Vista e a participação honesta (se não brilhante) dos caras do Keane, aí vai a versão de "Under pressure".



Para quem quiser conferir a versão "crássica" de "Under pressure", parceria épica do Queen com David Bowie, o Camaleão da música, não fique encabulado: é "apenas" um dos clássicos do Rock, além de ser atemporal.

Hasta la vista, niños y niñas!

CENAS CLÁSSICAS (1)

Posted: quarta-feira, 5 de janeiro de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , , ,
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Este post marca o início de uma nova série deste blog (se houver algo parecido com isso na blogosfera, não importa... I don't care): a de "cenas clássicas". No caso, trata-se de sequências que, por inúmeros motivos (até mesmo inglórios, e essa não foi uma citação ao mestre Tarantino), tornaram-se inesquecíveis, icônicas ou, até mesmo, clássicas.

A primeira cena escolhida é a épica "Escadaria de Odessa", do filme "O Encouraçado Potenkim", dirigido pelo russo Sergei Eisenstein. Tudo bem que esse filme somente seja mais novo do que o Oscar Niemeyer (ele foi gravado em 1925), mas ele foi um dos mais influentes da História do Cinema.

Resumindo o contexto do "Encouraçado Potenkim": alguns marinheiros revoltam-se contra o regime oligárquico (ou seja, contra o czar), e não faz nenhuma alusão ao regime comunista (ou leninista, como preferir), que havia chegado ao poder em 1919, por meio da revolução bolchevique (ironia mode on. Diz a lenda que Eisenstein produzia filmes para a alta cúpula do regime comunista na URSS, mas isso não vem diretamente ao caso).

Pois bem, voltando à "Escadaria de Odessa" (o ápice da película), o que ocorre por lá é algo parecido com uma chacina (lembremos que o mote do filme é a revolta dos marinheiros contra o regime czarista), e um dos destaques fica por conta de um carro para transporte de bebês (com uma criança nele, per supuesto); e uma das pessoas que percebe o carrinho se "locomovendo" escadaria abaixo leva um tiro em um dos olhos (a lente de seus óculos, obviamente, ficou dilacerada). Vale citar, também, que a escadaria realmente existe, e está localizada em Odessa, na Ucrânia, ex-integrante da URSS.

Para quem não sabe, esta foi uma das cenas mais citadas, retratadas, plagiadas, homenageadas e parodiadas na "telona" (leia-se Hollywood... Quando foi conveniente, a "Guerra Fria" e a batalha ideológica foram jogadas no lixo pelos gringos). Mestres do naipe de Alfredo Hitchcock, em "Correspondente de guerra", Woody Allen, em "Bananas", e Brian de Palma, no clássico "Os intocáveis" (talvez a citação mais fidedigna à matriz) o fizeram... Sem contar as paródias "Brazil" (nome sugestivo, não) e "Corra que a polícia vem aí 33 1/3", de longe a versão mais non sense, protagonizada por Leslie Nielsen (in memorian) e com participação especial de O.J. Simpson, ex-jogador de Futebol Americano, atualmente preso por roubo (ele foi inocentado de outra acusação, de crime passional).

Senhoras e senhores, eis o que realmente interessa neste post: a clássica cena da "Escadaria de Odessa" do "Encouraçado Potenkim", e as inúmeras citações.



Agora, galera, uma sugestão: corram atrás da pipoca e se esbaldem. Boa sessão!