ENSAIO SOBRE A INFÂMIA (PARTE I)

Posted: segunda-feira, 1 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Mais um dia, como qualquer outro. Mesmas pessoas, mesmas tarefas, mesmas paredes, the same old shit. Antes de você pensar que sou um niilista pseudo-depressivo e pessimista incorrigível, saiba que eu o sou, de fato. Mas isso não vem ao caso. Se eu tentar explicar resumidamente, você entenderá

Sem mais enrolações, antes que eu perca mais tempo falando de mim - sou tão interessante que até eu mesmo bocejo ao citar o meu nome -, vamos ao que interessa (?). Para o seu desprazer, sou Nicolas - Nico, para os poucos amigos que acho ter -, cineasta frustrado. Há alguns anos, eu era analista de mídias sociais em um escritório de arquitetura, ou vagabundo, para ser mais exato. Profissionais dessa área não o eram, mas eu honrava homericamente a raça dos "coçadores" e desocupados de plantão. À época, eu era estudante de Cinema, mesmo trampando em um escritório de arquitetura. É, eu estava no caminho certo à infâmia, que já me inevitável.

Minha aptidão para o Cinema não era lá grande coisa, mas pelo menos não era um vlogger, o que já era uma luz distante no fim do túnel. Para a arquitetura? Menos ainda. Não era à toa que eu era conhecido no escritório como o Oscar Niemeyer pós-moderno, dada a minha falta de aptidão crônica em usar réguas e por conta do meu traço abstrato - para não dizer ridículo, mesmo. Por isso, eu estava como vagab... Digo, analista de mídias sociais. Aliás, era a última tentativa do meu tio, arquiteto responsável pelo escritório, em dar a mão ao único filho de seu irmão.

Enfim, talento para qualquer porra eu não tinha, até porque eu era um incapacitado moral ambulante. Minha vida resumia-se a navegar na web durante o horário comercial, às poucas aulas que assistia - apesar desse comportamento errático, eu era bom aluno quando queria - e às horas a fio nos bares da vida. Também fazia parte de uma banda de indie rock, meio na vibe The Strokes. Ela era boa, até, mas quem a emperrava era o guitarrista, vulgo "eu". Bastou eu ser amigavelmente defenestrado dela por incompatibilidade musical - leia-se "eu era ruim pra caralho" - para ela começar a fazer relativo sucesso no cenário independente.

Sobre os meus relacionamentos, que duravam uma transa e não raras vezes alguns contos de réis, prefiro não comentar nada. Apesar de gostar de fazer o tipo "boêmio e putanheiro incorrigível", eu sentia falta de viver um caso de amor loucamente intenso. Daqueles de ficar abobalhado, de cometer as maiores loucuras de amor possíveis e imagináveis. Mas isso não vem ao caso. Quer saber? Foda-se. Vamos voltar ao que suponho que interessa: à minha vida de merda. Whatever.

Numa daquelas noites imprevisíveis, num desses bares sujos e não muito cristãos, decidi recolher-me à minha insignificância - ou melhor, a um balcão. Do nada, vejo ao meu lado uma mulher não estonteante, mas instigante, mesmo. Ela lembrava, por algum motivo, a Kirsten Dunst. Pela delicadeza, talvez. Não sou tão detalhista assim. Bêbado, menos ainda, mas nunca me esquecerei de como ela estava naquele dia: All Star meio sujo - mulheres de All Star me atraíam -; jeans justo; camiseta baby look do filme "Pulp Fiction", com a gravura dos personagens de Samuel L. Jackson e de John Travolta apontando cada um sua respectiva arma; e terninho de cardigan, daqueles que só se veem em mostras de Cinema e afins. A camiseta do Pulp Fiction, especialmente, não me fazia parar de tirar os olhos dela... Além de suas formas perfeitas, é claro.

Igualmente a mim, ela também estava tomando uma daquelas cervejas favoritas dos indies de plantão, e parecia não ter motivo aparente para estar naquela espelunca agradavelmente foleira - sim, a exemplo de muito jornalista pseudo-intelectual por aí, eu curtia botecos meio toscos. Mas a deixa, como não poderia deixar de ser, foi a camiseta do "Pulp Fiction". Eu era fissurado na filmografia do Tarantino, e a existência de uma mulher que também gostava da obra do cara era, no mínimo, afrodisíaca.

(Continua)

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