COVERS (NEM SEMPRE) NOTÁVEIS (8)

Posted: domingo, 28 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Homenagear, copiar, regravar e plagiar descaradamente os Beatles é um dos grandes clichês da história da indústria fonográfica. Também pudera, o formato de álbuns, tal qual o conhecemos atualmente - mesmo com todos os formatos de mídia atualmente vigentes -, além do conceito de videoclipe, eternizado (?) pela EMETEVÊ, surgiram graças aos caras.

Logo, não é à toa que todos queiram, em algum momento, ser um dos integrantes do fab 4 pelo menos uma vez na vida, e não importa se o postulante a beatle fake for o bêbado no videokê ou o Ozzy Osbourne - acreditem ou não, ele tornou-se o Ozzy como o conhecemos porque ele queria ser uma espécie de "o quinto Beatle".

Enfim, sem mais delongas - e sem fazer menção aos 250 mil atentados à discografia do quarteto de Liverpool -, vamos a uma cover que realmente valha a pena. Para variar, tinha de ter um dedo - ou melhor, o timbre - de Eddie Vedder, frontman do Pearl Jam, no meio.

Voltemos para 2001. Naquele ano, um dos filmes que mais repercutiram entre o público e a crítica foi o "Uma lição de amor" ("I am Sam", na gringa), no qual Sean Penn interpreta Sam Dawson, deficiente mental que tem de provar ser capaz de criar Lucy (!!!!), sua filha de sete anos, interpretada por Dakota Fanning. Além das várias citações feitas à obra do Beatles durante o filme, algumas das músicas mais marcantes dos caras foram interpretadas por outros artistas - entre eles estava Vedder, é claro.

O frontman do Pearl ficou responsável pela reprodução de "You've got to hide your love away", que ficou, diga-se de passagem, singelamente bela. Além de ter pegada folk, com direito a gaita, inclusive. Se quiser ouvi-la, liguem-se na execução dela durante a passagem do Pearl Jam por estas bandas, em 2005. Se quiserem ouvir "cópia original", da OST de "I am Sam", deem uma olhada aqui.



Para os beatlemaníacos, eis o deleite da versão de "You've got to hide your love away", presente no álbum "Help", de 1965 - anterior à fase mais psicodélica da banda, e isso pode ser notado graças ao corte de cabelo "tigelinha", originalmente chamado de moptop.



Enjoy it, folks!

ENSAIO SOBRE A INFÂMIA (PARTE III)

Posted: sexta-feira, 5 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , ,
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Ao melhor estilo “Efeito borboleta”, a mulher de minha vida – eu já me habilitava a me referir a ela dessa maneira – não quis saber das minhas justificativas notoriamente esfarrapadas e, aproveitando uma chance profissional que surgira à época para dar aulas no interior, foi embora sem titubear. Para esquecer-se de mim, igualmente à personagem de Katie Winslet em “Brilho eterno sem lembranças”, definitivamente.

O meu mundo havia caído. Motivação para viver, onde estava mesmo? Me sentia igual ao personagem de Ethan Hawke em “Grandes esperanças”, quando a persona protagonizada pela Gwyneth Paltrow o havia abandonado para ficar com um ricaço. No meu caso, eu mesmo havia fodido a minha vida e afastado a Lia de mim. O meu gênio autodestrutivo começava a falar mais alto e, sinceramente, pensei em dar um mergulho no Rio Tietê ou em chafurdar de vez na lama etílica. Mas, para mim, aquele que eu achava ser o meu maior castigo salvaria posteriormente a minha vida: viver não e esquecer-me dela.

Logo, Inês estava morta, e o que me restava era assumir o meu “erro”, ou seja, assumir a paternidade que me cabia no latifúndio da vida. Bernardo, o meu filho, era a minha cara e semelhança, coitado, mas havia passado a ser o meu porto seguro, por assim dizer. Estranho um loser boêmio dizer isso, mas a vida prega algumas peças, às vezes. Com o tempo, deixei de viver de freelas como analista de mídias sociais – ao contrário de outrora, já estava um pouco mais responsável – e, numa cagada do acaso, comecei a trabalhar como freelance em uma produtora cinematográfica. Como havia me acostumado ao ritmo de vida workahólico, acabei sendo promovido. Minha vida profissional começava a se encaixar, mas algo faltava.

Nem precisa ser Einsten para deduzir o que era esse “algo”. Era Lia, é claro. Por mais que tentasse esquecê-la – e olha que tentei muito, e com muitas outras pessoas -, ninguém ocupou o vazio deixado por ela. Consequentemente, eu estava num vazio existencial ferrado, numa bad fodida. Era foda admitir, mas eu havia deixado a mulher quem eu amava ir embora por ter me deixado trair pelos mais primitivos dos instintos humanos... Além de ter pensado da maneira errada, se você me entende.

Antes que eu comece a ficar ainda mais pedante e repetitivo do que sou por natureza, voltemos aonde eu havia parado. Onde, mesmo? Ah, tá. O meu lado workaholic havia rendido noites em claro, ao escrever o roteiro para um longa-metragem. Sim, o meu primeiro filme, com verba liberada depois de muito chorar para patrocinadores e o cazzo a quatro. O roteiro era simples, apesar de ter carga subjetivamente intensa: um cara até então sem motivo forte para viver encontra de maneira fortuita aquela por quem ele se apaixonaria perdidamente, mas uma aventura que ele vivera antes de conhecê-la fode todo o relacionamento. Agora te contesto loucamente, Oscar Wilde: a vida imita a arte. Durma com esse barulho.

Confesso que estava com o cu na mão – desculpe-me por mais esse termo baixo, mas não encontrei nenhum outro que descrevesse com precisão o meu estado de espírito -, no entanto, o meu “cagaço” não seria nada perto do que eu viria a sentir. Nada na vida, assim como na sétima arte, faz sentido, e esse roteiro desconexo que consiste no viver iria me pregar mais uma peça. Que quase me levou a um infarto, diga-se. Sim, Lia apareceu, sem mais, nem menos. Mas por que na noite de estreia do meu filme, porra?

Fiquei atônito, sem saber como agir ou se deveria me dirigir a ela, assim como na primeira vez em que a vi, naquele boteco foleiro, mas a minha cara-de-pau cinematográfica falou mais alto. Não mais do que a minha respiração ofegante, mas falava alto, sim.

Tá, o orgulho estava ferido e ainda me meti a salgá-lo, mas eu precisava fazer o que tinha de ser feito. Foram minutos assustadores, aqueles, mas voltei a me sentir como aquele jovem inconsequente de antes, apesar de não mais o ser. Inconsequente, no caso. Cara, você não faz ideia de como foi difícil furar novamente o Muro de Berlim, mas deu aparentemente certo. Sabe aquela história de que atos valem mais do que milhares de palavras? Nesse caso, os atos eram as cenas, mesmo.

Ao contrário dos filmes hollywoodianos, que na maioria são uma merda, não há mocinhos e vilões declarados na vida. E eu havia sentido isso na pele, ao alternar momentos de heroísmo ridiculamente inacreditável e de vilania, dignos de deixar Alex de Large se borrando de medo. No máximo, posso dizer que fui o anti-herói da minha vida.

Estava em transe – não plenamente feliz, pois a felicidade suprema, idealizada e transmitida por meio do senso comum, não existe. Ao menos, eu tinha a minha musa inspiradora de volta.

Moral da história? Não, não há. Fim? Menos ainda. O fim de um roteiro – ou fase, como preferir – chega conforme começa outra fase, ou é apenas uma instituição estabelecida por meio do senso comum para vivermos em função de um novo começo, do amanhã. O grande lance é viver, e rodar cada roteiro como se houvesse mais uma sequência. É isso.

ENSAIO SOBRE A INFÂMIA (PARTE II)

Posted: quarta-feira, 3 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , , ,
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Aquela deusa da sétima arte, para o meu alívio, não era poser, daquelas que fingiam gostar de determinada obra obra só para pagar de intelectual, e foi simpática comigo, até – estranhei, porque até mesmo os meus pais me achavam um porre, mas não me deixei abalar. O nome dela, saberia pouco depois, era Lia, e era estudante de Sociologia, para completar. Pela primeira vez na vida adulta – amores platônicos da adolescência não contam -, eu não estava atraído por uma mulher somente pela parte pura e simplesmente sexual. Estranhamente, me sentia bem perto dela, somente pelo fato de estar perto dela.

Em pouco tempo de conversa – eu supunha, pelo menos -, eu me sentia hipnotizado por ela. Não conseguia prestar atenção ao que ela dizia, somente em seus movimentos labiais; logo, o mundo girava em slow motion. Pelo pouco o que pude “reter”, ela era aficionada pelos filmes de Almodóvar, Truffaut e, acredite, em cinema iraniano. Bisonhamente, ela rira ruidosamente da minha cara, e achou meio estranho um estudante de Cinema não ter assistido, até então, a nenhum filme feito por aquelas bandas. Para minha sorte, sair pela tangente era uma de minhas especialidades: apesar de ser um loser incorrigível, eu manjava bem até sobre Bollywood e, também, sobre a indústria cinematográfica nigeriana – sabia que o mercado local é o terceiro maior do mundo? Soube um dia desses, numa daquelas aulas nas quais somente eu consigo interessar-me. É, acho que aquele foi o meu golpe de misericórdia: eu havia furado o Muro de Berlim erguido anteriormente pela própria.

Aquela foi, de longe, a melhor transa de toda a minha vida. Pela primeira vez, eu havia vivenciado uma relação na qual houve entrega mútua e todos aqueles clichês sobre os quais me recuso até o fim a dizer. Aquilo virou o meu soma, a minha dose moral de endorfina – além da física, é claro -; e a presença dela, o meu oxigênio. Foram noites insones e dias improdutivos no trabalho, que fizeram o meu tio perder o último fio de paciência e me demitir, até começarmos a namorar. Parceiro, a parada estava séria ao ponto de eu ter aceito colocar um anel na mão direita. Logo eu, que achava o uso desse famigerado objeto prateado uma instituição pequeno-burguesa e hipócrita. Eu estava na lama moral, mesmo. Ainda assim, feliz. O amor nos deixa idiota, só pode.

O meu cotidiano estava dividido entre os roteiros de curtas-metragens para a faculdade – agora entendo o mestre Vinícius de Moraes, em se tratando de amor e de inspiração criativa – e os programas lindamente mais bregas ao lado da Lia. Não interessava se fossem tardes cinematográficas com sessões extras in loco, se você me entende; fondue seguido de fodas épicas; ou passeios de bicicleta no Ibirapuera, eu me sentia como se Edith Piaf tivesse composto “La vie em rose” sob medida para a nossa relação.

Apesar de tudo, alguma coisa me inquietava. Essa “alguma coisa” era o fato de tudo dar certo. Desde que me entendo por gente, sempre acontecia alguma merda na minha vida. Para variar, isso teria de acontecer naquela fase da minha vida (justo naquele momento, porra?), e em dose dupla. O meu histórico boêmio iria foder a minha vida um dia, segundo os meus pais e amigos um pouco menos loucos – e olha que havia sido um adolescente “certinho” -, e foi exatamente isso o que aconteceu. Ironicamente, o feitiço virou contra o feiticeiro, graças a uma noite na qual esqueci de pegar preservativos em casa e não havia nenhuma drogaria 24 horas por perto, uma semana antes de ter conhecido a Lia. Sim, a bomba da paternidade havia estourado no meu colo. 


(Continua)

ENSAIO SOBRE A INFÂMIA (PARTE I)

Posted: segunda-feira, 1 de agosto de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Mais um dia, como qualquer outro. Mesmas pessoas, mesmas tarefas, mesmas paredes, the same old shit. Antes de você pensar que sou um niilista pseudo-depressivo e pessimista incorrigível, saiba que eu o sou, de fato. Mas isso não vem ao caso. Se eu tentar explicar resumidamente, você entenderá

Sem mais enrolações, antes que eu perca mais tempo falando de mim - sou tão interessante que até eu mesmo bocejo ao citar o meu nome -, vamos ao que interessa (?). Para o seu desprazer, sou Nicolas - Nico, para os poucos amigos que acho ter -, cineasta frustrado. Há alguns anos, eu era analista de mídias sociais em um escritório de arquitetura, ou vagabundo, para ser mais exato. Profissionais dessa área não o eram, mas eu honrava homericamente a raça dos "coçadores" e desocupados de plantão. À época, eu era estudante de Cinema, mesmo trampando em um escritório de arquitetura. É, eu estava no caminho certo à infâmia, que já me inevitável.

Minha aptidão para o Cinema não era lá grande coisa, mas pelo menos não era um vlogger, o que já era uma luz distante no fim do túnel. Para a arquitetura? Menos ainda. Não era à toa que eu era conhecido no escritório como o Oscar Niemeyer pós-moderno, dada a minha falta de aptidão crônica em usar réguas e por conta do meu traço abstrato - para não dizer ridículo, mesmo. Por isso, eu estava como vagab... Digo, analista de mídias sociais. Aliás, era a última tentativa do meu tio, arquiteto responsável pelo escritório, em dar a mão ao único filho de seu irmão.

Enfim, talento para qualquer porra eu não tinha, até porque eu era um incapacitado moral ambulante. Minha vida resumia-se a navegar na web durante o horário comercial, às poucas aulas que assistia - apesar desse comportamento errático, eu era bom aluno quando queria - e às horas a fio nos bares da vida. Também fazia parte de uma banda de indie rock, meio na vibe The Strokes. Ela era boa, até, mas quem a emperrava era o guitarrista, vulgo "eu". Bastou eu ser amigavelmente defenestrado dela por incompatibilidade musical - leia-se "eu era ruim pra caralho" - para ela começar a fazer relativo sucesso no cenário independente.

Sobre os meus relacionamentos, que duravam uma transa e não raras vezes alguns contos de réis, prefiro não comentar nada. Apesar de gostar de fazer o tipo "boêmio e putanheiro incorrigível", eu sentia falta de viver um caso de amor loucamente intenso. Daqueles de ficar abobalhado, de cometer as maiores loucuras de amor possíveis e imagináveis. Mas isso não vem ao caso. Quer saber? Foda-se. Vamos voltar ao que suponho que interessa: à minha vida de merda. Whatever.

Numa daquelas noites imprevisíveis, num desses bares sujos e não muito cristãos, decidi recolher-me à minha insignificância - ou melhor, a um balcão. Do nada, vejo ao meu lado uma mulher não estonteante, mas instigante, mesmo. Ela lembrava, por algum motivo, a Kirsten Dunst. Pela delicadeza, talvez. Não sou tão detalhista assim. Bêbado, menos ainda, mas nunca me esquecerei de como ela estava naquele dia: All Star meio sujo - mulheres de All Star me atraíam -; jeans justo; camiseta baby look do filme "Pulp Fiction", com a gravura dos personagens de Samuel L. Jackson e de John Travolta apontando cada um sua respectiva arma; e terninho de cardigan, daqueles que só se veem em mostras de Cinema e afins. A camiseta do Pulp Fiction, especialmente, não me fazia parar de tirar os olhos dela... Além de suas formas perfeitas, é claro.

Igualmente a mim, ela também estava tomando uma daquelas cervejas favoritas dos indies de plantão, e parecia não ter motivo aparente para estar naquela espelunca agradavelmente foleira - sim, a exemplo de muito jornalista pseudo-intelectual por aí, eu curtia botecos meio toscos. Mas a deixa, como não poderia deixar de ser, foi a camiseta do "Pulp Fiction". Eu era fissurado na filmografia do Tarantino, e a existência de uma mulher que também gostava da obra do cara era, no mínimo, afrodisíaca.

(Continua)