SÓ LIGARAM PORQUE...

Posted: terça-feira, 17 de agosto de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , ,
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Uma ligação. Uma simples ligação, de uma amiga, num momento inesperado. Ele jamais esperava que aquilo pudesse ser, ao menos, um sopro de perspectiva de mudança em sua vida, até então previsível e enfadonha. A vida de contador não lhe agradava mais; logo, não é preciso ser Steve Jobs para supor que tudo o que ele queria era mudar de ares, dar um pouco de emoção à sua vida; quiçá, passar sua vida a escrever e a fotografar. Sorrir? Essa palavra estava quase esquecida em seu vocabulário...

O estúdio de Fotografia ao qual ele foi era bem pequeno, quase familiar; no entanto, aquilo era quase o Olimpo... pero, suas expectativas eram pequenas, direcionadas a longo prazo (um defeito do cara sobre o qual estou falando: ao mesmo tempo em que ele não desistia de seu sonho e lutava ferrenhamente por ele, sua falta de auto-confiança o fazia sentir engulhos ao se olhar no espelho).

Enfim, a vida seguia, e da mesma maneira de antes... O dilema entre realização profissional e senso de sobrevivência lhe tirava a paz de espírito e, de quebra, sua úlcera crescia um pouco a cada dia. Se uma música o definisse, essa seria “Creep”, do Radiohead (tal qual Thom Yorke, ele se sentia um “mané”)... ou seria “Loser”, do Beck?

Muy bueno, outra ligação surgiu em seu celular. Seria aquilo o que ele esperava? Uma resposta negativa? (Outro aspecto, digamos, questionável do personagem: ele sempre esperava o pior em tudo... nem precisa dizer o quão ansioso e receoso ele é). O tempo parecia ter parado, assim como sua respiração. Sua voz saía com dificuldade ímpar, igual a um noivo no momento de dizer “Sim”. Seus ouvidos, assim como o seu pensamento e suas pernas, não o obedeciam. No entanto, igual a um piloto que ouve da equipe pelo rádio que tornou-se campeão mundial, foi possível decodificar a seguinte frase: “Você pode pedir desligamento da sua empresa... Iremos contratá-lo”.

Lágrimas tinham de ser contidas; assim como a voz estava embargada. Engraçado: como aquilo o que ele sempre sonhou pôde ter se tornado motivo de choro e de dúvidas? Na verdade, a separação de seus amigos de anos a fio o assustava. O “novo” o entusiasmava - ele era adepto a teoria de David Bowie, na qual é preciso encarar o estranho -, mas a redução do contato com aquelas pessoas com quem ele convivia até então mais do que com sua própria família tornou-se penoso.

Como já disse Newton certa vez, “uma ação resulta em uma reação de mesma intensidade e força” - seus conhecimentos em Física se resumiam a esse conceito -. Tudo tinha um preço, ele já sabia, mas era algo um pouco mais caro do que ele gostaria.

Resumo da ópera: sua vida mudaria, e era exatamente o que ele queria; no entanto, ele continuaria o mesmo cara easy going, como ele sempre fora; e, por mais que ele aprendesse uma porrada de novas informações, até mesmo a falar húngaro (como disse Chico Buarque, o único idioma que o Diabo respeita), ele não iria mudar de amigos; tampouco de suas origens.

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