A CLOCKWORK ORANGE

Posted: sexta-feira, 2 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Ao contrário que o título deste post sugere, ele não se refere ao célebre filme do legendário cineasta Stanley Kubrick (se bem que o Método Ludovico faria bem a Carlos Verri, vulgo Dunga), mas à outra "Laranja Mecânica": a seleção holandesa, pela ótica de uma pessoa de 21 anos (quase 22), conforme o passar do tempo.

Voltemos no tempo, para 1994. O Brasil estava ainda de ressaca, depois do impeachment de Fernando Collor; e recebeu o golpe de misericórdia após a morte de Ayrton Senna, um dos expoentes brasileiros na gringa. Também vivíamos os primeiros dias do plano Real, numa franca tentativa de reerguer a economia, até então dilacerada. Logo, não precisa ser Stephen Hawking para supor que a válvula de escape seria o Futebol, uma instituição nacional (apesar de ter surgido na Inglaterra... ou na China? Não vem ao caso agora). 

Enfim, voltando ao foco. Brasil x Holanda, quartas de final da Copa do Mundo. Esse garoto não entendia muito (ou melhor, quase nada) sobre futebol, apesar de que já havia chorado pelas derrotas de seu clube "de coração" e sabia diferenciar o juíz dos demais jogadores, coisa que suas "tias" na pré-escola não conseguiam. Após o final daquele jogo, comemorou muito, por osmose (pais e amigos o fizeram, e ele entrou na onda)... ele faria o mesmo após o pênalti perdido por Baggio na final, meio que sem entender o porquê.

Quatro anos se passaram. Ele (o garoto) sabia que o autor do gol da classificação brasileira contra a Holanda se chamava Branco, e passara a ser fã incorrigível do esporte bretão (eis o segundo legado deixado por seu pai a ele... o primeiro havia sido o amor ao Corinthians). Além disso, sabia que melhor jogador holandês (até então) em atividade se chamava Dennis Bergkamp, e que havia naquela seleção um tal de Edgard Davids, conhecido pelos óculos "diferentes" que usava (mas ele ainda não entendia o porquê).

Pois bem, ocorreu naquele mesmo ano (1998) um novo encontro entre brasileiros e holandeses. Ronaldo (ainda Ronaldinho, recém-"Fenômeno") marcou para o Brasil; e Bergkamp, um dos poucos nomes holandeses conhecidos para aquele menino, para os "laranjas". Taffarel, aquele goleiro que a mãe desse garoto falava ser um frangueiro de marca maior, foi o "hero of the day" naquele jogo. Em suma, outra vitória sobre os laranjas.

O tempo passou, e o menino-personagem cresceu. Soube que a seleção de seu país perdeu para a Holanda, sim (mas no longínquo 1974), que o craque daquele time era um tal de Johan Cruyf, e também passou a admirar Rinus Mitchel e o seu "carrossel holandês". Também entendeu por que Davids usava aqueles óculos estranhos para jogar futebol (era um problema ocular, afinal). O garoto também chorou muito e comemorou na mesma proporção, no que diz respeito às vitórias e derrotas de seu país e do Corinthians. Também passou a contestar as injustiças ao seu redor e colocou um pôster de Che Guevara (um argentino, olhem só). Amou, sorriu e chorou também, por uma série de motivos. O menino cresceu e virou homem (ainda não barbado... ele ainda tem cara de adolescente, para seu infortúnio).

Falando na Argentina, o garoto também soube que, em 1978, esse país foi o mandante da Copa naquele ano e a levou, de maneira vergonhosa, no mínimo. O Brasil havia sido eliminado (sem ter perdido) de maneira, no mínimo, contestável; e, na final, a Argentina ganhou da Holanda (!)... de maneira não menos questionável. Havia uma ditadura por lá (liguem os pontos, afinal).

Pois bem, retornando ao ponto em que estamos. 2010. Mais uma Copa do Mundo (ah!, o garoto-homem também aprendeu que o futebol também pode ser o ópio do povo), e mais um confronto entre brasileiros e holandeses. Ufanismo e patriotismo visível nas ruas e no banco do escrete brasileiro, personalizado em Dunga (aquele que poderia passar por sessões do Método Ludovico, que ergueu a taça em 1994 e que ama jornalistas em geral). O final da história é de conhecimento público: vitória do time de laranja.

O homem (lembremos que o garoto cresceu) não conseguiu se conformar com a derrota (a exemplo de umas 190 milhões de pessoas), mas algo lhe chamou a atenção: as lágrimas de sua irmã, uma garota de 11 anos. Essa era a 3ª Copa dela: em 2002, quando o Brasil foi penta, ela nem sabia o que era futebol direito; e, 4 anos depois, o esporte bretão não lhe atraía... mas esse mundial, segundo a própria, foi o primeiro que a entusiasmou. Ele aprendeu mais uma coisa: por mais que se busquem razões, motivos, vilões, teorias conspiratórias e explicações para uma derrota, não há nada mais sincero do que as lágrimas de uma criança... e isso o homem (outrora garoto) não sabia mais o que era.

1 comentários:

  1. Tenho que dizer: seu texto ficou do caralho! Meus parabéns!

    Agora que venham los hermanos XD