McCÂNCER SOCIAL

Posted: sexta-feira, 23 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: ,
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"Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, pickles e (...)"... o resto vocês já sabem, e não me darei ao trabalho de continuar a cantar (sic) esta musiquinha tosca. O que eu direi (ou irei escrever?) vai deixá-los deprimidos, abatidos, quiçá poderá torná-los potenciais suicidas: todos gostamos do McDonald's, mesmo sabendo que seus lanches são tudo menos saudáveis. Fato.

Outra coisa que dói igual ao som das vuvuzelas, mas é outra verdade (praticamente) irrefutável: gostamos de copiar tudo o que vem da gringa - isso já é uma instituição nacional, diga-se. Os mexicanos também apreciam os costumes estadunidenses como quem toma água de uma fonte risonha e límpida, mas ao menos dá uma "nacionalizada" na história: os tacos, sandubas com cactus e com calangos, são a versão de sombreiro e de bigode (do cara quem prepara os lanches) do Big Mac.

No entanto, vamos a um "mini recapitula" da história do McDonald's, baseada em dados fictícios: viajemos ao longínquo ano de 1937. Os EUA começavam a se recuperar, por meio de remédios tarja preta de muita roubalheira, da Grande Depressão que nem Freud conseguiu explicar. John Smith McDonald, fazendeiro texano que não achou um poço de petróleo no seu quintal, teve uma ideia digna de velhaco altamente empreendedora: decidiu dar serventia às minhocas de sua propriedade (quase um aterro), customizou os legumes rejeitados pelos porcos e "maquiou" os pães com fibras (do reino fungi), e criou um monstro uma das criações mais famosas dos tempos modernos: o Big Mac.

A ideia de vender lanches à base de alimentos porcamente selecionados parecia, de cara, doentia; mas, contudo, todavia (tá bom, parei por aqui), deu certo... lembremos que, durante o "tsunami" econômico, ninguém tinha nada para comer... nem mesmo milho. Para completar, a associação às batatas fritas roubada de um navio de legionários franceses e de uma certa bebida feita à base de esgoto (com o nome fantasia de Coca-Cola) formou um combo praticamente imbatível... e aí começou o começo do império McDonald. O tiro de misericórdia foi a formulação do sistema de franquias, inspirado em projeto semelhante de uma igreja / emissora televisiva brasileira... daí, a queda de barreiras internacionais foi um pulo.

Após a expansão imperialista chegada do McCâncer à terra que tem palmeiras onde canta o sabiá, o brasileiro, povo sem auto-estima receptivo a novidades da gringa, abraçou intensamente a causa e a mandou para a barriga cheia de vermes e de bernes pança com essa iguaria nada nutritiva e saborosa (Norman Sporluck mostra o quão saudáveis os lanches do McCâncer são em Super Size me)... e vivemos felizes desde então, com o nosso pão e circo simplificado ou, se preferir, o McLanche Feliz.

Enfim, apesar dos pesares, mesmo com todas as críticas possíveis e imagináveis ao assunto-base deste post, ir ao McDonald's é um senso comum... O que nos resta é pedir um lanche e sermos felizes (fritas pequenas ou grandes?).

Enfim, isso é tudo, pessoal.

EFEMÉRIDES DA MANDELÂNDIA

Posted: domingo, 18 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Pois é, galera. Primeira semana após o fim da Copa do Mundo... fica aquela sensação de que "o fim não tem fim", como diz uma música do The Strokes, alternada com o sentimento de vazio; de depressão, talvez. Não só pelo final do período de trinta e poucos dias de overdose de o "esporte bretão" na tela daquele televisor de 42 polegadas com Full HD (aquela mesma que te faz lembrar as 257 prestações a serem pagas, naquele carnezinho clássico de uma certa loja de eletroeletrônicos e o escambau), mas por pensar em todos os momentos que você perdeu por causa do placebo em âmbito mundial.

Pelo espetáculo, pela festa, pela repercussão na quebrada (quase) idealizada por McLuhan (twittadas & afins), a XIX edição do torneio de peladas idealizado por Jules Rimet (é, aquele mesmo quem deu nome à taça derretida pelas bandas de cá) valeu mas, pelo futebol... só não deixarei para lá porque o post acabaria por aqui. Essa Copa foi a mais cinematográfica da História, graças aos super slow motions, à pirotecnia e aos erros homéricos, dignos dos pastelões clássicos da "Sétima arte"; sem contar o famigerado recurso do beijo no final (se vocês não viram o beijo que Casillas arrebatou de sua namorada e repórter, Sara Carbonero, após uma bravata, cliquem aqui)... esse paralelo traçado sobre esse mundial e o Cinema já havia sido traçado no caderno Sabático, do Estadão, mas não me recordo quem o fez.

Falando sobre o tão famigerado e paradoxalmente amado e odiado Futebol, esse foi tão somente um coadjuvante desta vez. Culpa de quem? De Dunga (falar mal dele virou senso comum, mas ele teve parcela MUITO grande de culpa pela campanha insossa da "legião de guerreiros" brasileiros enviada às trincheiras da África do Sul), de Maradona, Mick Jagger e de seu pé glacial, da Jabulani, do polvo Paul e de Larissa Riquelme (aiai...). Logo, as personalidades, as picuinhas generalizadas e as personalidades destacaram-se mais do que o bom futebol, afinal.

Sobre a atuação do Brasil, limito-me a dizer o seguinte: a megalomania de Dunga, o "futebol de resultados (duvidosos)" e o nervosismo excessivo em campo (reflexo da "vibe" do banco de reservas) derrotaram o escrete canarinho... ou seja, o Brasil foi o seu próprio algoz; e a pá de cal, a "espremida de laranja" do Felipe Melo.

Sobre os "hermanos", não dá para falar somente do massacre provocado pela blitzkrieg do "exército" de Löw, o melequento (apesar de que valeu boas risadas por aqui). Por mais difícil que seja para admitir, Don Diego Armando Maradona foi uma das personalidades desta Copa, apesar de toda a sua empáfia, antipatia e arrogância, já notórias - será que somente eu achei isso, ou ele realmente lembrava uma espécia de Don Vito Corleone portenho? De quebra, ele "conheceu" Müller, um dos algozes dos argentinos (para quem não sabe, o mesmo Maradona recusou um singelo autógrafo ao mesmo Müller no começo deste ano, por achar que o jovem alemão fosse um gandula).

Para coroar o "Momento 'O mundo dá voltas'", esta merece menção honrosa: em 2000, o então técnico do Real Madrid, Vicente del Bosque, não acreditava no potencial do jovem goleiro de seu time, um jovem de 18 anos chamado Iker Casillas (a desconfiança era grande ao ponto de "apenas" del Bosque virar-se de costas a cada ataque adversário, para não ver o desfecho de cada jogada)... e, DEZ anos depois, o mesmo del Bosque sagrou-se campeão mundial, e viu o capitão de seu time, o mesmo Casillas, erguer a taça e tornar-se herói nacional.

Mais algumas efemérides, que não poderão ser detalhadas (muita informação, you know): o revival da Revolução Francesa, a tragédia à italiana, o azar do Mick Jagger, o "Cala boca Galvão", a "antropoformização" da Jabulani, o tormendo causado pelas cornetas do diabo vuvuzelas, o epic fail da Nike (apesar de que a trilha sonora do comercial é perfeita), o renascimento da Celeste, com direito à escolha de Forlán como melhor jogador e todo o resto... além de Paul, o polvo vidente, ter se safado da paella acertado todos os resultados e "cravado" a Espanha como campeã mundial.

No entanto, meus caros, o melhor momento da Copa do Mundo foi a tentativa de Jimmy Jump de erguer a taça, mas os seguranças brucutus não o permitiram... a esta hora, o "pobre coitado" deve estar a sofrer torturas inimagináveis em alguma prisão turca... ou nos confins da Sibéria, afinal? Após as imagens abaixo, tirem suas conclusões.



Enfim, "that's all, folks"! See ya'll soon.

NUNCA MAIS? (PARTE 3)

Posted: sábado, 10 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Bastou Ana Maria dizer que tinha medo de viajar de avião que o mundo - e o próprio avião - viraram de ponta-cabeça. O tripulante orientou os passageiros, por meio de voz trêmula, a aperterem os cintos, por motivos óbvios; e o pânico era evidente no ar (pressurizado), tangível talvez... uns choravam (além das crianças, é claro); outros falavam frenética e desesperadamente. Não obstante, alguns não reagiam, mas estavam com o olhar distante, assustado e resignado, como se estivessem esperando pelo pior.

Eu estava atônito, torcendo para que aquilo fosse um pesadelo e para que eu acordasse logo - ofegante, seguramente... Apesar de ser algo surreal, a turbulência estava acontecendo, de fato. De repente, tal qual um déjà-vu, aquela "sensação estranha" que tive no táxi voltou à tona. Nunca tive tanto medo de não voltar a nadar - eu não o fazia há anos -; e temia, de coração, a não sentir o aroma do café expresso. Temia nunca mais admirar Maria Luíza ao amanhecer (até nos meus prováveis últimos instantes eu pensava nela, cazzo!).

Ademais, a ideia de nunca mais falar com o meu "velho", em especial, me aterrorizava. Aquilo me impôs um sentimento de culpa tão grande quanto o (seguramente) sentido por Cerezzo, ao errar o passe que resultou no gol de Paolo Rossi e, de certo modo, na eliminação do Brasil perante à Azurra em 1982... queria demais pedir perdão ao meu pai pelo meu egocentrismo juvenil. Também passou um flashback da minha vida diante (?) dos meus olhos: a minha infância no subúrbio de São Paulo (ou melhor, em Guarulhos), a minha adolescência paradoxalmente nostálgica e conturbada (acho que o meu mau-humor de hoje se deve à minha introspecção intensa de outrora); os dias - e noites - com Maria Luíza... Até imaginava as manchetes dos (tele)jornais do dia seguinte: "Queda de avião mata 100".

Ao ter consciência de que eu seria um daqueles cem, me desesperei. Eu tive a sensação de ter ouvido o Corvo de Edgard Allan Poe sussurar em meu ouvido "Nevermore" (em bom português, "Nunca mais"). Durante aqueles intermináveis minutos, eu havia me esquecido completamente da existência de Ana Maria... O desespero, contido porém visível, em sua expressão me instigou a tranquilizá-la... mas eu não sabia como fazê-lo (palavras reconfortantes nunca foram o meu ponto forte). Não tive muita escolha (moral); logo, comecei a dizer-lhe que tudo terminaria bem, que conseguiríamos pousar sãos e salvos em terra firme - sem convicção alguma no que eu mesmo dizia, confesso. Meio que por condescendência, Ana Maria concordou (ou fingiu?) com o que eu dissera. Confesso que estava com medo de cair no clichê do tipo: "Não importa o que aconteça, mas saiba que gostei de conversar contigo..."; contudo, para minha surpresa, ela o fizera.

Pouco depois dessa declaração inesperada e improvável por parte dela, tal qual um passe de mágica, a turbulência começou a tornar-se mais branda e, consequentemente, o voo estava se estabilizando. Parecia até que a passagem pela sucursal do "Triângulo das Bermudas" estava se encerrando (para o alívio de todos aqueles dentro do avião, foi o que ocorreu de fato). Não conseguia dizer mais nada a Ana, e ela também estava em silêncio (não sabia se queria desembarcar o quanto antes, ou se queria se ver livre de mim). Estávamos numa espécie de "agradecimento mútuo e tácito", por um estar ao lado do outro.

Finalmente, o pesadelo estava se acabando - juntamente com a pista de pouso. Estava pouco me importando com a bagagem, tampouco com o check-in no hotel... só queria estar com os pés em terra firme. Após eu e Ana Maria termos desembarcado - e a voltarmos a respirar -, vimos bombeiros, médicos, policiais e (adivinhem!) alguns repórteres no aeroporto (eu não queria ter a minha cara estampada num telejornal - e, para a minha sorte, ela também não). Após conseguirmos nos esquivarmos dos "urubus" da imprensa (atrás de "carniça"), fui ao banheiro... para, enfim, colocar toda a angústia, desespero e raiva para fora, em formato de lágrimas.

O pior havia passado... ainda bem que a "pseudo-EQM" havia acabado. Não sabia definir, ao certo, se estava aliviado por ir ao congresso para professores "fodidos" de Literatura, ou enraivecido mesmo - por causa desse evento eu quase virei um corpo somente identificável por meio de exame na arcada dentária. Como prêmio de consolo, eu teria a companhia de Ana Maria durante - e após - os debates e as palestras, por uma semana.

NUNCA MAIS? (PARTE II)

Posted: quarta-feira, 7 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Quanto mais falava com Ana Maria, mais interessado por ela ficava (aparentemente, sabe-se lá por qual motivo, parecia ser algo mútuo); e mais pontos em comum encontrava entre nós... e entre ela e Maria Luiza, (in)felizmente. O sorriso dela, ao mesmo tempo meigo e sedutor, lembrava muito o de minha ex; assim como o olhar, penetrante e, por algum motivo, sincero... o timbre de sua voz, semelhante ao de Vanessa Krongold, vocal do Ludov, era hipnotizante; e a maneira de gesticular enquanto conversava comigo era de um grau de graciosidade tão elevado quanto o de uma integrante de uma equipe de nado sincronizado. Eu estava me sentindo atraído por ela, e estava gostando daquilo... seria legal tentar esquecer Maria Luiza por uns tempos, antes que eu estivesse na cama com outra mulher e "a visse".

Quando falávamos sobre o filme "Adeus, Lênin!" - mais um ponto em comum entre nós: ele estava na lista de "os cinco melhores filmes" de ambos -, uma voz digitalizada anunciou: "Voo 4761 da TAM, com destino a Curitiba, irá partir daqui a dez minutos". Fiquei meio que "anestesiado" quando soube que iríamos no mesmo voo, mas não em poltronas "vizinhas". Ela ficaria ao lado de uma apresentadora de um desses programas televisivos insossos, exibidos na parte da manhã; e eu, ao lado de um executivo ao melhor estilo "porco capitalista". Foi um pouco árduo negociar com a apresentadora (com o executivo não haveria acordo, pois o cara estava revoltado por ter de viajar na classe econômica), mas foi possível trocar de lugares... eu e Ana Maria poderíamos viajar juntos.

Retomamos (ou melhor, ela o fez) o diálogo sobre filmes europeus; e ela começou a falar sobre o filme "Asas do desejo", de Wim Wenders; e ela rira ruidosamente quando eu disse que ele era uma versão decente de "Cidade dos anjos"... e eu ria por osmose, para tentar aliviar a ansiedade pré-decolagem. Para a minha (falta de) sorte, no exato instante em que Ana Maria parara de rir, o avião estava decolando. Estava visivelmente abatido, tal qual alguém que presenciou um assalto; e as minhas mãos suavam ao ponto de, caso alguém as visse, acharia que eu as lavara e não as enxugara... Ana me lançou um olhar com um quê de compaixão e de escárnio; e me perguntara se estava tudo bem. "Sim... só tenho um pouco de medo de altura". Por algum motivo (des)conhecido, ela a começou a rir debochadamente e me disse um insólito "Relaxe, seu bobo!". Se isso tivesse sido falado em outras circunstâncias (e por qualquer outra pessoa), eu teria ficado puto da vida; mas achei graça dessa fala dela.

A (pseudo) turbulência havia passado, e eu já respirava aliviado (ou melhor, respirava) - já conseguia até fingir que não havia acontecido nada, apesar da cara de escárnio da Ana. A conversa havia tomado a perigosa e traiçoeira rota dos relacionamentos - justamente o que eu temia. Ela havia comentado sobre os affairs (fiquei surpreso ao saber que ela nunca havia ido a fundo em um relacionamento, apesar de sua beleza estonteante e de seu estilo, digamos, instigante); e eu havia me limitado a respostas quase monossilábicas sobre o meu casamento e sobre um ou outro affair (nunca me senti à vontade para falar sobre mim).

Conversávamos sobre os interesses de ambos - ela, seguramente, não gostou muito de saber que eu não passava de um roteirista frustrado, e falava comigo só para passar o tempo - e estava integralmente voltado para o que ela falava (apesar do meu jeito aparentemente "distante de tudo")... Quando ela comentou que (também) tinha medo de viajar de avião, tive a sensação de que ela falara palavras mágicas (não necessariamente positivas): uma turbulência (de fato) estava prestes a se iniciar.

NUNCA MAIS? (PARTE I)

Posted: segunda-feira, 5 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , ,
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Era um dia nublado, tão insosso quanto um prato preparado para um hipertenso (em tratamento). A garota do tempo, numa dessas ironias da vida, havia informado que aquele seria um dia ensolarado; e o mesmo fora informado na TV do metrô e no jornal. Talvez seja mais fácil acreditar em duendes e na integridade moral de Sarneys e de caudilhos em geral. Ah!, e diga-se de passagem, aquele era um dia interessante para viajar de avião... e eu teria de fazê-lo, até Curitiba.


Na verdade, eu iria a um desses congressos regados a muitas palestras sonolentas e rodadas de uísque até o amanhecer (e isso tenderia a repetir-se por uma semana). O tema era ligado à Literatura (antes que eu esqueça de dizer, sou professor de Letras numa dessas universidades particulares por aí; e, nas horas vagas, tento desfazer-me das minhas frustrações escrevendo... nem preciso dizer o quão ridícula e insignificante é a minha obra(?)). Enfim, por algum motivo que nem um tal Sigmund Freud explicaria, fui convidado a participar dela.


No fim das contas, aceitei sem titubear, para tentar fugir um pouco dos problemas - e de mim mesmo, reconheço. Eu não passava por uma fase "das melhores", por assim dizer. O meu casamento de cinco anos havia acabado (ou melhor, fui eu quem optara pelo divórcio... Maria Luiza, minha ex-mulher, merecia alguém melhor, menos chato e menos propenso a ser um "loser"); o meu emprego na universidade estava por um fio (tudo por causa de uma veemente discussão com o reitor, um "carrasco nazi-fascista"); e, além disso, a minha relação com o meu pai não andava muito boa (por minha culpa... seguramente pelo meu jeito "fechado", por preferir chorar escondido do que a pedir ajuda... e, desde que havia dito ao "velho" que estava cansado de ser um problema (!) na vida dele, não nos falamos mais... e isso faz uns três meses).


A caminho do aeroporto, no táxi, sem motivo aparente, tive uma sensação estranha... era como se aquela fosse a última vez em que eu faria aquilo. Será que nunca mais veria os prédios da Avenida Paulista? Eu não teria mais oportunidade de ver o sorriso da Maria Luiza, o mais lindo que eu vi até hoje? (é difícil admitir, mas eu ainda a amava e, por amá-la, decidi afastar-me dela... e me sentia igual ao personagem de Matt Damon em "Gênio indomável". A exemplo do que você está pensando agora, sei que sou um cara complicado; enigmático, como uma grande amiga minha diria). Nunca mais iria ao Pacaembu, para assistir ao jogo do Corinthians? Eu não iria mais ir a uma livraria, para ler por horas e horas; ou ir ao bar com os amigos? Por alguns segundos, eu me senti aterrorizado por causa daquela sensação; tanto que o taxista me perguntou se estava tudo bem. "Tudo bem, 'velho'... só uma certa nostalgia por antecipação". Ele havia dito que muitos dos passageiros dele sentiam algo semelhante. "Não foi nada demais"; e me calei instantaneamente. Nunca fui muito bom em conduzir diálogos...


Fim da corrida até o aeroporto (sem trânsito intenso, ainda bem); e ela ficou por volta de R$30,00... se não fosse pelas malas, eu teria pego ônibus e metrô sem problema algum. O voo estava previsto para as 16h30 e, por um milagre, estava aproximadamente 1 hora e quinze minutos adiantado (eu nasci com um ligeiro (?) problema crônico no meu relógio biológico; logo, nunca fui muito bom no quesito "pontualidade"). Aproveitei para despachar as malas para que fossem direcionadas ao compartimento do avião; e fui à Duty Free, para comprar um livro para passar o tempo da viagem (eu havia esquecido o "Admirável mundo novo" em casa; e pretendia lê-lo pela terceira vez... queria certificar-me que as comparações que faziam comigo e com Bernard Marx, personagem desta obra de Huxley, eram fundadas). Acabei adquirindo um livro sobre Cinema Europeu; e aproveitei para tomar um café.


Estava (bem) concentrado no capítulo dedicado à Nouvelle Vague quando, inesperadamente, uma mulher de aproximadamente trinta anos pediu para sentar-se na mesma mesa. Era atraente, especialmente pelos cabelos encaracolados à Norah Jones, pela sua pele levemente bronzeada pelo sol e pelo sou corpo frágil, mas bem torneado... contudo, ainda não era tão bonita quanto Maria Luiza (por que cazzo eu sempre comparo qualquer mulher a ela, por mais linda que seja?). Para variar, não consegui "puxar" nenhum assunto e continuei a ler, mas ela dissera que gostava muito do Cinema feito no "Velho mundo"... após uns dez minutos, parecia que nos conhecíamos há anos; e conversávamos empolgadamente sobre os filmes do Almodóvar.


Numa dessas grandes surpresas que a vida nos reserva, ela também era professora de Literatura (em uma escola privada) e também iria àquele congresso em Curitiba... definitivamente seria uma companhia agradabilíssima naqueles dias. Antes que eu tenha mais um acesso de amnésia, o nome dela era Ana Maria.

MOMENTO PLAYLIST

Posted: domingo, 4 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , ,
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Música. De acordo com a vã filosofia, som harmônico obtido por meio de instrumentos musicais (guitarra, baixo, bateria, piano, reco-reco, meia-lua...) ou vocálicos (pode ser uma voz angelical, a minha, esganiçada, desafinada...). Elas podem ser usadas para fins terapêuticos, tranquilizadores, sexuais e, até mesmo, agir tal qual um placebo. Também podem servir para irritar a outrem (se você não se dá bem com o vizinho e decide dar uma festa com o som no talo, seu desafeto pode achar que o volume das músicas tocadas naquele momento é caso de segurança pública), tanto para unir pessoas (entendam como vocês quiserem).

Não precisa ser o Dunga (sorry, guys... foi inevitável) para supor que um conjunto de músicas forma uma coletânea, ou uma playlist (escolham o termo que quiserem, capice?). Essa playlist pode ser temática (por banda / artista, estilo musical, tema abordado), ou aleatória; e varia de acordo com o grau de loucura gosto musical de quem a faz.

Sobre preferências musicais, é notório que gosto é que nem  impressões digitais: cada um tem o seu. Outros defendem que as preferências têm a ver com o bom senso. Pertinente? Pretensioso? O que acham? O fato é o seguinte, caros: cada um tem a sua preferência, e ponto final. Tudo bem que a predileção por músicas a MCs diversos, aos Djavús da vida (já vi isso antes... eu acho) e afins podem ser sinais de sociopatia, mas criticar ferrenhamente também pode significar arrogância, prepotência ou qualquer outro adjetivo que você quiser usar.

Uma música pode refletir determinado momento vivido por alguém, por exemplo. Vamos nos basear no caso de pessoas que ouvem tudo o que está "bombando" no mainstream (ou seja, adolescentes). Será que elas ouviriam músicas de bandas cujas músicas são de gosto (!) duvidoso e na qual seus integrantes usam calças coloridas e afins? Será que nossas queridas mães (sim, nossas mães) ainda ouvem aquelas boys bands dos anos 80?

Já uma playlist, galera, é um reflexo do que você pensa e, de certo modo, da personalidade de cada um. Reflete, querendo ou não, as preferências (outro lugar-comum (!)), a visão de mundo, aquilo que chama ou não sua atenção... enfim, pode ser considerada como a uma resposta àquela pergunta clássica: "Quem é você?" (agora começo a imaginar pais dizendo aos seus filhos :"Diga o que você ouve e direi quem tu és").

Você pode até deletar uma ou outra música de determinado estilo ou banda ("Como eu pude ouvir aquilo?", muitos já se perguntaram e ainda se perguntarão na vida), mas a playlist, jamais será modificada em essência... Por que? Pois bem, querendo ou não ela reflete algo inalienável a todo e qualquer ser: a opinião (e quem a não tem está, no mínimo, distanciado de si próprio).

Falando em trocas em playlist, um dia desses, meio que por acidente, descobri uma banda (ou melhor, uma música, que me instigou a vasculhar a discografia) que, digamos, me chamou a atenção: French Kicks; e a faixa, "Abandon" (o vídeo está aí, para vocês conferirem se vale a pena... se quiserem, é claro).




Aproveitando o nome da banda, Au revoir, l'enfants!

A CLOCKWORK ORANGE

Posted: sexta-feira, 2 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , , ,
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Ao contrário que o título deste post sugere, ele não se refere ao célebre filme do legendário cineasta Stanley Kubrick (se bem que o Método Ludovico faria bem a Carlos Verri, vulgo Dunga), mas à outra "Laranja Mecânica": a seleção holandesa, pela ótica de uma pessoa de 21 anos (quase 22), conforme o passar do tempo.

Voltemos no tempo, para 1994. O Brasil estava ainda de ressaca, depois do impeachment de Fernando Collor; e recebeu o golpe de misericórdia após a morte de Ayrton Senna, um dos expoentes brasileiros na gringa. Também vivíamos os primeiros dias do plano Real, numa franca tentativa de reerguer a economia, até então dilacerada. Logo, não precisa ser Stephen Hawking para supor que a válvula de escape seria o Futebol, uma instituição nacional (apesar de ter surgido na Inglaterra... ou na China? Não vem ao caso agora). 

Enfim, voltando ao foco. Brasil x Holanda, quartas de final da Copa do Mundo. Esse garoto não entendia muito (ou melhor, quase nada) sobre futebol, apesar de que já havia chorado pelas derrotas de seu clube "de coração" e sabia diferenciar o juíz dos demais jogadores, coisa que suas "tias" na pré-escola não conseguiam. Após o final daquele jogo, comemorou muito, por osmose (pais e amigos o fizeram, e ele entrou na onda)... ele faria o mesmo após o pênalti perdido por Baggio na final, meio que sem entender o porquê.

Quatro anos se passaram. Ele (o garoto) sabia que o autor do gol da classificação brasileira contra a Holanda se chamava Branco, e passara a ser fã incorrigível do esporte bretão (eis o segundo legado deixado por seu pai a ele... o primeiro havia sido o amor ao Corinthians). Além disso, sabia que melhor jogador holandês (até então) em atividade se chamava Dennis Bergkamp, e que havia naquela seleção um tal de Edgard Davids, conhecido pelos óculos "diferentes" que usava (mas ele ainda não entendia o porquê).

Pois bem, ocorreu naquele mesmo ano (1998) um novo encontro entre brasileiros e holandeses. Ronaldo (ainda Ronaldinho, recém-"Fenômeno") marcou para o Brasil; e Bergkamp, um dos poucos nomes holandeses conhecidos para aquele menino, para os "laranjas". Taffarel, aquele goleiro que a mãe desse garoto falava ser um frangueiro de marca maior, foi o "hero of the day" naquele jogo. Em suma, outra vitória sobre os laranjas.

O tempo passou, e o menino-personagem cresceu. Soube que a seleção de seu país perdeu para a Holanda, sim (mas no longínquo 1974), que o craque daquele time era um tal de Johan Cruyf, e também passou a admirar Rinus Mitchel e o seu "carrossel holandês". Também entendeu por que Davids usava aqueles óculos estranhos para jogar futebol (era um problema ocular, afinal). O garoto também chorou muito e comemorou na mesma proporção, no que diz respeito às vitórias e derrotas de seu país e do Corinthians. Também passou a contestar as injustiças ao seu redor e colocou um pôster de Che Guevara (um argentino, olhem só). Amou, sorriu e chorou também, por uma série de motivos. O menino cresceu e virou homem (ainda não barbado... ele ainda tem cara de adolescente, para seu infortúnio).

Falando na Argentina, o garoto também soube que, em 1978, esse país foi o mandante da Copa naquele ano e a levou, de maneira vergonhosa, no mínimo. O Brasil havia sido eliminado (sem ter perdido) de maneira, no mínimo, contestável; e, na final, a Argentina ganhou da Holanda (!)... de maneira não menos questionável. Havia uma ditadura por lá (liguem os pontos, afinal).

Pois bem, retornando ao ponto em que estamos. 2010. Mais uma Copa do Mundo (ah!, o garoto-homem também aprendeu que o futebol também pode ser o ópio do povo), e mais um confronto entre brasileiros e holandeses. Ufanismo e patriotismo visível nas ruas e no banco do escrete brasileiro, personalizado em Dunga (aquele que poderia passar por sessões do Método Ludovico, que ergueu a taça em 1994 e que ama jornalistas em geral). O final da história é de conhecimento público: vitória do time de laranja.

O homem (lembremos que o garoto cresceu) não conseguiu se conformar com a derrota (a exemplo de umas 190 milhões de pessoas), mas algo lhe chamou a atenção: as lágrimas de sua irmã, uma garota de 11 anos. Essa era a 3ª Copa dela: em 2002, quando o Brasil foi penta, ela nem sabia o que era futebol direito; e, 4 anos depois, o esporte bretão não lhe atraía... mas esse mundial, segundo a própria, foi o primeiro que a entusiasmou. Ele aprendeu mais uma coisa: por mais que se busquem razões, motivos, vilões, teorias conspiratórias e explicações para uma derrota, não há nada mais sincero do que as lágrimas de uma criança... e isso o homem (outrora garoto) não sabia mais o que era.

COVERS NEM SEMPRE NOTÁVEIS (2)

Posted: quinta-feira, 1 de julho de 2010 by Mau Júnior in Marcadores: , ,
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Vocês já ouviram falar em Jamie Cullum? Não? Pois bem, em todo caso, aí vai uma micro-contextualização um tanto tosca: é, digamos, a versão gringa e "de calças" da  Dani Carlos... ou a versão "somente gringa" do Emmerson Nogueira, mas o som do cara é voltado para o Jazz.

Por que "versão gringa e de calças" da Dani Carlos? Covers aos montes explicam? Vamos lá: já passaram pelo seu "Ctrl C / Ctrl V" a banda inglesa Doves ("Catch the sun"), U2 (a cover da cover, em "Everlasting love"), além do serviço de utilidade pública da releitura de "Please, don't stop the music", da Rihanna (realmente essa versão não pode ser paralisada, DJ).

Então, sem mais delongas, vamos ao que interessa: à cover feita pelo "pequeno" Jamie Cullum de "High and Dry", do Radiohead. Tudo bem que não se trata de uma pura e simples cópia (tem a "personalidade" do cara na versão feita), mas as guitarras de Greenwood e de O'Brien ainda dão aquele "toque a mais" em "High and Dry". O que vocês acham? A cópia está aí, para ser vista e analisada por vocês.




Se vocês quiserem conferir a versão original, fiquem à vontade... ela está aqui.

So, that's all, folks. Em breve, novos covers aparecerão por aqui. See ya'll soon!