CORRUPÇÃO PRIVADA

Posted: domingo, 8 de dezembro de 2013 by ajeugenio in Marcadores: , ,
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Beth e Carlos estavam namorando há sete meses e, sabe-se lá por quê, ela ficava ainda mais apaixonada por ele dia após dia. Por outro lado, ele a via apenas como uma foda fixa, nada além do que isso. Tanto que, às escondidas, Carlos traía Beth na primeira oportunidade que encontrava. Mesmo com os amigos alertando sobre Carlos, Beth não dava a mínima. Afinal, ele era tão legal com ela, eles se entendiam tão bem na cama e ele a tratava tão bem, que nada parecia fazer sentido. "Isso tudo é inveja! Só porque estou feliz...", pensava e dizia para si própria.

Ela estava tão cega e encantada por Carlos, mas tão encantada, que toparia fazer qualquer coisa para agradá-lo. E, ao perceber que tinha Beth na palma da sua mão, ele não pensou duas vezes e fez uma proposta para lá de indecente: gravar os dois transando. "Ver você num vídeo é excitante, amor", disse, sem esconder o ar canalha. Beth até estranhou no início, mas se era para agradá-lo, por que não? Mesmo com medo, que não conseguia identificar, ela foi até a casa de Carlos, ajudou no enquadramento da câmera e superou a inibição inicial no vídeo: oral, posições variadas e gemidos estavam todos ali, gravados. Mas Beth não imaginava o que poderia acontecer dali em diante.

Dias depois, Carlos encaminhou o vídeo para um brother no WhatsApp. "Dá uma olhada na performance da gata", enviou segundos antes do vídeo. Daí, em questão de horas, meio mundo estava assistindo ao já famigerado vídeo. Chegaram a postar no YouTube, mas fora retirado do ar algumas horas depois por violar regras de uso e o caralho a quatro. O mundo de Beth estava de ponta-cabeça. Ou melhor: tão destruído como uma cidade dizimada pela guerrilha civil.

Os dias seguintes foram devastadores. Seu perfil no Facebook estava inundado de postagens de desconhecidos, que se resumiam a frases como "Se fode aí, sua puta!", "Vadia de merda!" e daí para baixo. Os pais estavam prestes a expulsá-la de casa e os amigos, então, viraram as costas. "Até parece que vou andar com você, uma rampeira de quinta categoria... Vai queimar o meu filme, isso sim", disse sua até então melhor amiga, em uma ligação, curta, grossa e nada cortês. O golpe de misericórdia veio dias depois, como uma mensagem fria e sem sentimentalismo algum no WhatsApp: "não namoro com putas. Vazei. Se fode aí". Sim, Carlos, o cara que a convenceu a gravar o vídeo que fodera com sua vida, tirou o dele da reta e acabou com o que parecia ser um conto de fadas até alguns dias antes.

A vida não parecia fazer mais sentido algum. Ela queria sumir, desaparecer e morrer. E a saída que ela encontrou começou com o seguinte e-mail à mãe:

"Mãe,

Me perdoe. Não quis te envergonhar, menos ainda ao pai. Tudo o que quis foi agradar ao Carlos. Ele insistiu tanto para gravar aquele vídeo... Não imaginava que ele mostraria para outras pessoas.

Haja o que houver, saiba que te amo.

Amor,

Beth."

Em seguida, a janela de seu quarto, no sétimo andar de um condomínio de alto padrão em um bairro nobre, parecia ser a única saída para reencontrar a paz.

Carlos, até então ileso de tudo o que fizera com sua namorada, sentiu remorso e culpa quando soube que Beth havia cometido suicídio. De certo modo, ele a havia matado e, com ela, uma parte de si que ele até então desconhecia.

3 comentários:

  1. SahKelly says:

    Seria um bom argumento de novela, se não se tratasse da vida real. Quantos Carlos precisamos matar dentro de cada um que ri, repassa ou se excita com a individualidade alheia para evitar que mais Beths morram?

  1. ajeugenio says:

    Infelizmente faz parte da vida real, Sah :( Vai levar algum tempo para matarmos cada
    Carlos que existe em cada um, mas um dia chegaremos lá. Torço por isso, pelo menos.

  1. Unknown says:

    Infelizmente é a história da vida real...Um bando de canalhas que precisa entrar em extinção urgentemente.Mas por ora, a mulherada precisa abrir os olhos.