Tudo indicava que seriam dias de confraternização entre amigos (com muita cerveja, merda dita o tempo todo e o cazzo a quatro, é claro), mas há sempre alguma coisa que algum filho da puta faz que irrita profundamente, ao ponto de estragar toda a vibe da ocasião... E não poderia deixar de ser diferente, infelizmente, no evento esportivo da faculdade, que reunia uma porrada de alunos de vários campi.
Pois bem, eu estava, neste dia, com Carlão, Flávio, Eduardo e Takeshi (éramos conhecidos como "fab five" pela gurizada do nosso campus e por algumas gurias que pegávamos, mas isso não vem ao caso), como sempre, com copos de cerveja na mão e falando sobre o cotidiano... Futebol, música, cinema, mulheres (pauta obrigatória, afinal), besteiras aleatórias... Mas, meus caros, vi uma cena que me deixou extremamente emputecido: um bando de retardado de merda estava a laçar as gurias e, como bizarrice pouca é bobagem, ainda estava rolando uma espécie de rodeio com as, digamos, gordinhas.
A minha vontade, naquele momento, era de chegar na voadora em cada um deles (o meu estado etílico me ajudava a tal, diga-se), assim como a de Carlão; no entanto, Flávio, Eduardo e Takeshi, os mais ponderados do bando nos dissuadiram a fazê-lo (o argumento deles três era, de cara, revoltante - diria covarde, até -, mas seria mais civilizado e eficaz do que a violência gratuita: levar o caso à reitoria do campus).
Apesar de ser aceito, não conseguia digerir o fato de ter "ignorar" aquela porra toda. Estava pouco me fodendo se aqueles caras eram filhos de médicos, empresários, políticos, contraventores; tampouco se eles praticavam alguma arte marcial ou MMA (parando para pensar um pouco mais tarde, talvez não ter partido para cima deles tenha sido melhor, realmente; e por conhecimento de causa. Eu já havia sido espancado até perder os sentidos por um bando de playboys há uns dois anos, por defender duas minazinhas que estavam sendo importunadas por eles... Pelo menos, de acordo com o que me disseram depois, elas conseguiram sair correndo; contudo, se eu tivesse "apanhado" um pouco mais, talvez eu não estaria contando essa estória agora).
Eu fiquei muito puto com aquela palhaçada. Não conseguia parar de pensar no semblante de desespero e de vergonha daquelas gurias pegas por aquele bando de primatas... Pior foi pensar que havia feito algo, em caráter análogo, parecido com aquilo. Tudo bem que eu era moleque, mas o ápice da idiotice foi participar de um mega "montinho" (vocês manjam aquela "brincadeira" na qual todos pulam em cima de um pobre coitado? Pois bem, é isso). O coitado que sofreu a "avalanche humana de merda" saiu com um puta corte no supercílio, graças àquela pallhaçada toda... Desde então, confesso que comecei a ponderar um pouco mais sobre o que eu fazia ou falava perante a qualquer outra pessoa.
Aquilo também me fez lembrar do filme "Cama de gato", aquele do qual o Caio Blat participa e que, resumindo a história, um bando de retardado estupra uma guria e, dado o estado de violência e de barbárie daquilo tudo, ela acabou morrendo. Não vi diferença nenhuma naquela porra toda no campus, em comparação com esse filme.
Não sou santo, não tenho pretensão de o ser e espero não ser julgado como tal. Sou daqueles que têm de tomar cuidado para não "pegar pesado" em comentários (sou sarcástico e irônico pra cacete, reconheço); mas humilhar, constranger e ridicularizar qualquer outra pessoa, mesmo que seja um über nerd ou um playboy de merda, não é do meu feitio.
Espero que cada um desses desgraçados seja devidamente responsabilizado pelo o que fizeram, e não importa quem eles sejam ou quem sejam seus parentes. Retratar-se perante a alguém por um erro é, no mínimo, obrigatório; no entanto, há atitudes que não merecem sequer serem desculpadas... E essa foi uma delas.
Porra Amauri, nunca tinha lido um texto seu (que vergonha), mas só tenho uma coisa pra dizer. Continue assim, honesto, ácido com as palavras, e com um estilo próprio que lhe convém muito. Se já o admirava pela brodagem, e pelo carisma que tu passou nos poucos meses que passamos na mesma sala de aula, agora virei fã.
Não que a admiração de um escritor fanfarrão e medíocre como eu valha de alguma coisa, mas...
Abraços, irmão!