CÁ E LÁ (1)

Posted: quinta-feira, 7 de julho de 2011 by Mau Júnior in Marcadores: , , , ,
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Você já deve ter conversado, teorizado, discutido, se revoltado e, até mesmo, feito um discurso à Fidel Castro numa mesa de boteco sobre comerciais de cerveja produzidos no Brasil. Não pelos aspectos positivos, é claro. Pode reparar: nove entre dez comerciais feitos para divulgação de marcas do líquido sagrado - vá lá, algumas são dispensáveis, no mínimo - apelam para os clichês churrasco-pagode-galera descolada à "A banda mais bonita da cidade" - gostosas. Isso sem contar o boteco mais fake do que uma novela da Rede Globo.

Pode até ser que um ou dois desses pontos ocorram, mas não necessariamente de maneira caricata, mas é bom ressaltar o seguinte: a vida não se resume a um churrasco à beira da piscina, com um bando de figurantes de "Oração" a admirar as curvas bem definidas da Megan Fox, por exemplo - se você suportar a ideia de ouvi-los cantar "Meu amor, esta é a última oração para salvar seu coração..." com uma lata de cerveja na mão, saia daqui agora.

A prova cabal de que o brasileiro não tem criatividade, em se tratando de comerciais de cerveja, é que sempre há uma maneira para se colocar uma mulher deslumbrante no meio. Não que seja de tudo ruim - não viveríamos sem elas, e os ogros de plantão irão concordar comigo -, mas há alguns aspectos a serem considerados. Será que usar o esteriótipo feminino não remete ao aspecto "dominante" masculino, ao reduzi-la somente a uma "gostosa que vai buscar a breja gelada para mim"? Será que, também, não somos chamados nas entrelinhas de "trogloditas que agem por impulsos previamente treinados"? Sejamos francos: esse recurso, além de saturado, degrada a imagem feminina. Mulher não precisa ser aquela gostosa de biquíni para ser atraente. O conjunto da obra é o que vale, afinal.

Além disso, o mote "papo descolado que nunca rolaria na vida real" já perdeu o seu espaço antes mesmo de ser inventado. Para algo ser vendável é necessário que o potencial consumidor consiga "se ver" ali, e não idealizar uma situação para fazê-lo. Uma das premissas das peças publicitárias não é chamar a atenção do público-alvo justamente pela identificação com o produto X, não é mesmo? Além disso, há como ser engraçado e fugir do senso comum.

Peguemos como exemplo comerciais da Heineken, patrocinadora da Uefa Champions League. Por mais que a maioria deles aborde o futebol como ponto de partida para o desenrolar da mini estória, aspectos criativos estão ali. Seja na entrada dos amigos no bar como se fosse um túnel de estádio, seja numa aparente briga que se transforma no reencontro de velhos conhecidos. Mas nada supera uma velha brincadeira com o comportamento feminino. Mulheres entram em transe e praticamente surtam ao ver o guarda-roupa, closet, whatever de uma amiga, ou ficam histéricas ao ver uma coleção infindável de sapatos. Agora, aplique o mesmo grau de histeria em um bando de barbados ao se deparar com acervo infindável de Heineken. Bom, esse é o conceito da parada, que você poderá ver abaixo.


Agora, outra amostra de como ser genial e, até mesmo, brincar com lugares-comuns. Você, meu amigo, imagine no seguinte: você está no bar com seus amigos, falando sobre a vida - real, é bom ressaltar -, até que a sua namorada/esposa/fuck friend liga. Você, até prova em contrário, está na faculdade, na apresentação de um seminário, ou no trabalho - no caso dos jornalistas, no fechamento de uma edição de jornal ou de revista, por exemplo. A casa caiu, certo? Pensando nisso, alguns marqueteiros argentinos - sim, os nossos hermanos - fizeram a seguinte "brincadeira", com a Cerveza Andes: a criação de uma máquina de "teletransporte" com ambientização de uma série de ambientes: hospital, escola, casa da mãe, até mesmo o metrô - o popular Teletransporter. Quer dar uma olhada na bagaça?


Dá para fugir do lugar-comum na maior. Com um pé nas costas, até. Quantos workshops, cursos e o cazzo a quatro serão necessários para que os marqueteiros e cervejeiros daqui mudem a fórmula e troquem o disco? Pensem nisso, com a sua cerveja preferida ao seu alcance. Com moderação, é claro.